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09/11/09

Mobilidade social no País é limitada

A análise é de Waldir Quadros, da Unicamp, que defende a necessidade de rever o padrão de produção

No Brasil, a melhora no padrão de vida vem ocorrendo, nos últimos anos, principalmente dentro do grupo das pessoas que deixam a condição de miseráveis. No entanto, essa mobilidade é pequena e não supera a barrreira das camadas inferiores, cujos rendimentos variam entre R$ 635,00 e R$ 1.588,00. 

Se olharmos os profissionais liberais de nível superior, que estão na faixa da alta classe média, aquela com rendimentos acima de R$ 3.177,00, a mobilidade social se mantém baixa. É isso o que aponta o estudo sobre estratificação social relativo ao período de 2004 a 2008, feito por Waldir Quadros, professor do Cesit (Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho) e do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). A pesquisa foi feita com bases nos dados da PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Confira na entrevista abaixo a opinião do professor sobre os resultados da pesquisa e quais caminhos ele indica para que o País mude essa trajetória e reduza o fosso entre ricos e pobres:

CNTU - O estudo que o senhor realizou mostra que a ascensão social no Brasil é restrita. A que se deve esse resultado?

Waldir Quadros - O estudo mostra que no período de 2004 a 2008 tivemos forte mobilidade social nas camadas inferiores. Essa chega no máximo com vigor até a classe C – ou baixa classe média, como eu chamo –, cujo padrão de vida é o de um professor primário, um auxiliar de escritório, um balconista. É uma ascensão importante, tira muita gente da miséria, tira uma parte da pobreza, mas chega até essa classe que vive em dificuldades. Qual o motivo dessa limitação?

Atribuímos à baixa performance da economia brasileira, que está baseada numa estrutura bastante debilitada. Fundamentalmente o que cresceu até 2006 foi a exportação do agronegócio e minérios, de commodities, que é importante para o País, mas não gera dinamismo. Outro sinal dessa vulnerabilidade é que 2/3 do total dos desempregados estão nas famílias que tiveram melhor desempenho.

CNTU - Programas como o Bolsa Família têm papel importante nessa mobilidade?

Waldir Quadros - O principal fator é uma combinação virtuosa de crescimento econômico, de 4,5%, muito acima de até então, e recuperação do salário mínimo, que é uma medida distributiva importante, porque afeta não só a base no mercado de trabalho como também todos os efeitos previdenciários. Obviamente, complementada pelas políticas de transferência de renda como o Bolsa Família, um programa assistencial importante pela abrangência, que alcança a miséria. 

CNTU - A mobilidade social é limitada porque não está baseada em alto valor agregado?

Waldir Quadros - Não está baseada em uma estrutura industrial avançada e nas suas conexões principalmente com serviços. É debilitada e fica estreita porque cria pouco emprego para a classe média, em função da política econômica de dólar barato e juro alto, que inibe o desenvolvimento tecnológico interno e torna mais interessante importar que produzir aqui.
 
CNTU - A crise financeira global teve também influência nos resultados da pesquisa?

Waldir Quadros - A última PNAD é de outubro de 2008. A pesquisa (do IBGE) que vai incluir esse cenário está sendo feita agora e só vai sair lá para meados de 2010. Independentemente disso, a crise financeira recolocou ao Brasil e ao mundo a agenda do desenvolvimento. Abriu uma grande janela de oportunidades porque quebrou o monopólio do neoliberalismo. 

E no País, o Governo adotou o caminho correto. Agora está ocorrendo sutilmente uma disputa muito forte na condução da política econômica. De um lado tem o pessoal do mercado, que fala que a crise já passou e é preciso retomar a prática anterior. Por outro, o Governo deve voltar a controlar seus gastos para pagar dívidas, os juros podem começar a subir e tem a vertente desenvolvimentista. 

CNTU - A sucessão eleitoral pode determinar esses caminhos?

Waldir Quadros - Acho que aí que vai se resolver. Essa eleição vai ser decisiva.

CNTU - Esse problema que o senhor traz à luz por meio da sua pesquisa, de a mobilidade social ser limitada em função de um modelo produtivo que precisa ser revisto, é consequência de duas décadas sem crescimento?

Waldir Quadros – Exatamente. São mais de 25 anos de estagnação, que desestruturou a produção e também o local do trabalho mais qualificado.

CNTU - É preciso, então, também resolver esse gargalo?

Waldir Quadros - O ideal seria que as políticas de desenvolvimento, ciência e tecnologia e industrial andassem juntas com formação de recursos humanos. Temos que nos espelhar na Coréia, que fez isso e em 20 anos resolveu esse problema. Hoje, 95% dos jovens têm ensino universitário, aqui não deve chegar a 15% em geral, contando todo tipo de faculdade. Mas isso não é difícil de resolver e o Brasil tem condições. Acho que seu maior desafio não está no ensino superior. Mas no ciclo fundamental, aí sim é terra arrasada. Tem que refazer a escola pública.

CNTU - E aí podemos ter essa mobilidade social ampla?

Waldir Quadros -  Levando a baixa classe média à média e a média à alta. Poderíamos ter agora um “milagre”, mas com distribuição de renda. Isso em 20 anos produz outra sociedade, mais igualitária. Eu acho que em termos de possibilidade, podemos ser otimistas. Agora, se não houver uma solução política adequada, vamos ficar parecidos com o que fomos de 2004 a 2008, andando de lado.



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