Soberania e emprego em pauta de seminário da CNTU
A atividade realizada pela confederação na última sexta-feira, 6/12, debateu os desafios do País para alcançar soberania nacional e atual conjuntura do mundo do trabalho.
Parte da programação do seu 5º Encontro Nacional, a CNTU realizou, na última sexta-feira (6/12), o seminário “Soberania e emprego”, na sede do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP). O debate contou com a exposição do geógrafo, pesquisador e professor em Geopolítica na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), André Roberto Martin, e do sociólogo, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Clemente Ganz Lúcio, e foi intermediado por Maria Maruza Carlesso e José Manoel Ferreira Gonçalves, diretora e conselheiro da CNTU respectivamente.
Em sua fala, Martin abordou a soberania sobre o olhar da geografia. Muitos países, ele exemplificou, podem ser provedores de pleno emprego, de boa economia, mas não necessariamente são soberanos. “Estamos num momento de desânimo, mas se começarmos a olhar para o País a partir da sua história e da sua geografia, vamos ficar mais otimistas”, ele externou.
Ele contextualizou o significado de soberania, termo originário do poder dos grandes reis em decidir sobre a guerra, na idade média, evoluindo, com as independências dos países americanos e passando a ser vista como o poder de livre comércio. Nesse sentido, os países das américas passaram a ser o principais fornecedores de matéria-prima aos países industrializados, o que ele salientou “reforça que soberania econômica não significa soberania política”.
A única nação que “ficou de fora disso”, segundo ele, foram os Estados Unidos, que, após sua independência, passou a disputar economicamente com a Inglaterra, dando à soberania o significado de “produzir dentro do país o que se necessita”, a soberania industrial. Após as guerras, a soberania econômica ficou voltada também a quem desenvolve tecnologia nuclear. Mercado, indústria e tecnologia, sobretudo, autonomia compõem uma soberania nacional. Porém, externou o professor, “a soberania é um binômio que une capacidade e vontade”.
“Alguns países tem pouca capacidade de ser soberanos, no entanto tem muita vontade, e com isso conseguem superar seus entraves”, continuou o geógrafo. No entanto, o Brasil, em sua visão, tem grande capacidade de soberania e “pouquíssima vontade”. “E é justamente o que a gente assiste hoje em nossa sociedade, uma elite sem nenhuma vontade de desenvolver o país, a soberania nacional”, ele opinou.
Na opinião de Martin, o Brasil tem capacidade de ser soberano, principalmente, detentor de soft power, o poder brando de relações internacionais. “O Brasil tem uma presença geopolítica muito grande, é só olhar no mapa”, ele frisou. Para tal soberania, o professor defendeu a relação entre os países do hemisfério Sul, destacando a Índia como principal aliada ao Brasil.
“Se nós tivermos a capacidade de compreender o lugar geopolítico do Brasil, nós vamos tirar uma grande venda dos olhos e avançar para uma possibilidade de superação dessa antinomia que estamos vivendo agora”, Martin afirmou.
Do outro lado da mesa, o diretor do Dieese apresentou grandes desafios a uma soberania nacional sobre o ponto de vista do emprego. “As transformações no sistema produtivo são profundas e radicais”, frisou Ganz Lúcio. Com o advento da quarta revolução industrial, está sendo estruturado um novo mundo, conforme ele explicou, que muda radicalmente o que é o trabalho e o que é o emprego.
Nesse cenário, o pacto entre capital e trabalho, em que o trabalho é protegido nas relações sociais, é extinto, e se intensifica ainda o uso da tecnologia em escalas inimagináveis. “Nós ainda temos o paradigma de que a tecnologia não substitui a inteligência humana [...] parte substancial dessa revolução mostra que nós somos capazes de inventar uma máquina que consegue nos superar [...] máquinas que aprendem a tomar decisões”, ele externou.
Em projeção apresentada pelo sociólogo, num curto prazo todas as atividades econômicas serão realizadas com assistência de máquinas e, em médio e longo prazo, predominantemente as atividades laborais serão executadas por máquinas com algum tipo de auxílio humano. No Brasil, os dados indicam que em 10 anos 60% dos postos de trabalho serão afetados gravemente por inovação tecnológica o que, nas palavras de Lúcio, significa “que o posto vai ser fechado ou transformado”.
Segundo estudos da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apresentado pelo técnico do Dieese, ao longo da vida uma pessoa em média terá cinco profissões diferentes, o que implica mudanças nos modelos atuais das universidades também. Com a transformação tecnológica, simultaneamente há mudança no poder das empresas na organização do sistema produtivo, concentrando renda no setor financeiro. “Os dados mostram, são 43 mil empresas multinacionais no mundo [...] 150 empresas do setor financeiro controlam 40% dos ativos dessas multinacionais”, ele revelou.
“Isso significa, portanto, que nós temos uma agenda pela frente, que é uma agenda para pensar o mundo do trabalho”, ressaltou Lúcio. Para ele, as transformações impulsionam uma disputa pela organização do sistema produtivo, de forma que a tecnologia venha para gerar condições para se trabalhar menos e viver mais. “Uma sociedade que tem o nível de tecnologia que estamos indicando, é uma sociedade com capacidade de distribuição coletiva, portanto, com um papel de estado totalmente ressignificado”, afirmou.
Confira as exposições na íntegra e o debate ao final do seminário:
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