Plenária e posse do "Conselho das 1.000 cabeças"
Aconteceu nesta quinta-feira (15/12) a 19ª. edição da Plenária do Conselho Consultivo da CNTU, quando foram empossados 105 novos membros. Agora já são mais de 2 mil integrantes do chamado “Conselho das 1.000 cabeças”.
Integrando a programação da 16ª. Jornada da entidade, a atividade – em formato híbrido, presencial no auditório do SEESP, na capital paulista, e online no canal do Youtube da confederação – foi coordenada pelo seu diretor de Articulação Nacional, Allen Habert. Ao final, foi feita a leitura da carta do evento pela jornalista, ambientalista e codeputada da Mandata Ativista (SP), Claudia Visoni, uma das conselheiras empossadas, a qual foi aprovada pelos participantes.
A pesquisadora Maria Rosa Ravelli Abreu abriu as saudações aos novos membros, destacando ensinamento do escritor brasileiro Guimarães Rosa: a importância de se pensar para agir, ao encontro do que move o “Conselho das 1.000 cabeças”. “É o que a CNTU tem feito, no sonho de um país justo, um futuro radioso no sentido da integração com a América Latina, via transporte aquaviário, ferroviário, como toda a Europa vem fazendo. É a maneira de nos unirmos”, enfatizou a conselheira veterana. Na mesma linha, a psicóloga Valéria Sanchez frisou que o que caracteriza a confederação é a coligação da intenção com a ação.
Para o jornalista Paulo Cannabrava, editor da revista Diálogos do Sul, o governo federal eleito, que assumirá a partir de 1º. de janeiro de 2023, terá que enfrentar questões como a militarização da política, a garantia de um Estado laico e a “guerra de narrativas”. E só conseguirá com o engajamento da sociedade.
A economista Ceci Juruá, também membro efetivo, saudou o Conselho como o “ambiente ideal” para se trabalhar pelo Brasil, num momento muito necessário. Isso porque, afirma, “sofremos um período de destruição imensa, principalmente do Estado nacional”.
Ela lembrou do processo de desmonte iniciado ainda nos anos 1980 e 1990 até a privatização recente da Eletrobras e ameaças à Petrobras, destacando: “Que a CNTU seja a grande frente democrática de resistência, para que a gente não perca a Petrobras e recupere todas as bases desse conglomerado, rumo a um país em que não haja mais fome e onde todos tenham casa, comida, educação, saúde, trabalho e cultura.”
Com a palavra, os novos integrantes
A pesquisadora e psicóloga Marilene Proença apresentou avanços alcançados em sua profissão, em prol da saúde pública, como a Lei nº 13.935, de 11 de dezembro de 2019, que prevê que as redes públicas de educação básica disponham de serviços de psicologia e serviço social, em fase de regulamentação em municípios e estados brasileiros. Vinculando essas conquistas à construção de uma sociedade mais justa, ela falou sobre sua esperança de que em 2023 haja a retomada da participação social à consolidação do processo democrático brasileiro e ao enfrentamento das desigualdades.
A perspectiva otimista é compartilhada com a jornalista Mariana Moura, coordenadora do Movimento Cientistas Engajados, que frisou: “Com muita honra aceitei o convite [para integrar o “Conselho das 1.000 cabeças”]. Temos a tarefa de reconstruir o Brasil e prepará-lo para os próximos 100 anos, acabar com a fome, gerar emprego e renda, avançar na transição energética, construir um país em que a riqueza pertença ao povo.” A disputa por esse projeto de nação, acredita ela, já começou e será árdua: “Cabe a nós participarmos desse processo.”
Diretora da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet), Patricia Laier também expressou sua emoção e alegria em ser empossada, salientando a importância do Sistema Petrobras num projeto de reconstrução nacional, o qual tem a possibilidade de “oferecer energia que o País precisa para crescer de forma sustentável”.
A empresa pública tem papel importante inclusive, como pontuou ela, para acabar com a fome no Brasil, na produção interna de fertilizantes nitrogenados. “Tem também ponte com educação e saúde”, disse, lembrando que o fundo do pré-sal originalmente destinava 75% para a primeira área e 25% para a segunda. “É fundamental para o Brasil dar o salto que precisa”, concluiu.
Paulo Massoca, coordenador do Movimento Engenharia pela Democracia, acredita que a grande batalha é por esclarecer a opinião pública sobre a importância do serviço público, o papel do Estado e da Petrobras no terreno das ideias a partir de 2023.
“Isso é vital, é onde vai se dar a batalha. Agora fala-se no caminho da privatização da água, que já foi trilhado por países centrais e não deu certo. O Estado pode ser a ferramenta para criação de políticas públicas que beneficiem o conjunto da população. Vamos à luta pelo Brasil, nosso povo, a engenharia nacional e um futuro melhor”, finalizou.
Isso é premente nas periferias das grandes cidades, como demonstrou Maria Aparecida Honório, conhecida como Cida, coordenadora do Núcleo de Mulheres da Associação de Moradores do Alto da Brasilândia: “Somos a segunda maior comunidade da cidade de São Paulo. Durante a pandemia estivemos por duas vezes no topo das mortes por Covid-19. Percebemos que o caos era ainda maior do que imaginávamos na periferia, muito mais grave. Só não foi maior por ação das nossas associações e organizações.”
Como contou, não havia equipamentos adequados e internet de qualidade para garantir educação a distância aos alunos da rede pública, casas enfrentavam a falta de água tratada, algumas com “um banheiro para dez pessoas” e as pessoas sofriam com insegurança alimentar. Numa perspectiva de mudar essa realidade, Cida apontou como premente a transformação da vida das mulheres, numa “rede conectada de ajuda”.
Claudia Visoni trouxe a urgência desse pensar coletivo e ação conjunta, ao falar dos desafios ambientais: “O Cerrado alcançou recorde de desmatamento, assim como a Amazônia. Os yanomâmis vivem uma crise humanitária, garimpeiros abriram uma estrada de 150km dentro de suas terras. Tudo isso tem correlação com o aquecimento no Atlântico, principalmente na área da Antártica. Tem aumento chuvas, tempestades.”
Segundo ela, a Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP) – cuja 27ª. edição aconteceu neste ano no Egito – mostrou que “a meta definida no encontro de Paris está politicamente inviável, e ainda não temos no debate da política o tema das adaptações climáticas”. Visoni alertou: “Na nossa expectativa de vida as consequências já são ruins, e para quem vem por aí são péssimas.” Assim, fez o chamado: “Que esse conselho ajude a nos articularmos para melhorar a herança que estamos deixando. O racismo ambiental, a injustiça climática são realidade acachapante, precisamos agir em prol dos mais vulneráveis na sociedade.”
Em face desse quadro, o engenheiro Alexandre Siqueira acredita que o mundo enfrenta “crise civilizatória”. Para reverter esse cenário, defende – assim como seu colega Paulo Massoca – que se disputa a opinião pública com a verdade. Também propugna a reconstrução do Estado brasileiro e pensar mudança no modo de vida em prol do meio ambiente.
Ada Nery Suene, consultora de comunicação, concluiu: “São muitos desafios, e é muito bom ter vozes unidas para falar de projetos e novos investimentos, coisas que o País precisa para avançar.” Já o cacique Ramon Tupinambá saudou a importância de se unir forças e saberes.
Acesse aqui a relação dos integrantes do “Conselho das 1.000 cabeças”
Assista à 16ª Jornada da CNTU clicando aqui
Textos e fotos: Soraya Misleh
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