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13/04/20

Água virtual e água natural associadas às mudanças climáticas

Carlos Magno Corrêa Dias

"Mesmo encontrando uma vacina para acabar com a Covid-19, sem o comprometimento de toda a humanidade com a água agora estamos fadados a em breve não existir mais na Terra como espécie", destaca conselheiro da CNTU em artigo.

 

 

 

 

Em tempos de Pandemia da Covid-19, a qual enfrenta a humanidade de forma jamais verificada, não é fácil desviar o foco e tratar de outras questões que não estejam diretamente associadas. Todavia, a crise gerada pela doença Covid-19 vai ser superada e continuaremos sendo obrigados a avaliar diversos outros problemas que se não forem solucionados comprometerão, também, a melhor existência futura do homem ou poderá acabar com a humanidade. 

 

Assim sendo, chamar a atenção para tratar das complexas relações entre água e mudanças climáticas são, também, necessárias uma vez que envolvem outras questões fundamentais para a continuidade da humanidade as quais, acrescente-se, são tanto ou mais complicadas quanto encontrar a cura para a doença Covid-19. Sem água potável o homem não sobreviverá. 

 

Como todo ano acontece, desde a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992, a ECO-92, realizada no Rio de Janeiro, a ONU (Organização das Nações Unidas) define um tema para o Dia Mundial da Água, celebrado a cada 22 de março. Os correspondentes temas pretendem maior conscientização sobre a importância e os cuidados com a água.  

 

Acertadamente, para 2020, “Água e Mudanças Climáticas” foi o tema estabelecido pela Agência UN-Water (Agência da ONU responsável pela coordenação de ações em assuntos sobre água doce e saneamento).

 

O tema foi escolhido porque se faz urgente pensar novas formas de como tratar sustentavelmente os problemas com os recursos hídricos gerados, particularmente, pelas mudanças climáticas que afetam o ciclo natural da água, promovem maior variabilidade dos eventos hídricos extremos (secas, enchentes, inundações) e comprometem as prospecções sobre a disponibilidade e quantidade hídrica no planeta. 

 

Ao longo dos séculos as diversas atividades humanas tais como uso da terra para plantações, a construção de hidroelétricas para a produção de energia, a queima de combustíveis fósseis (tipo carvão natural, petróleo, gás natural), o acentuado desenvolvimento da agropecuária, o crescimento das atividades industriais, a geração e o descarte de lixo, o desmatamento, dentre outras tantas, promoveram ou grandes enchentes em alguns locais ou geram longos períodos de estiagem em outros. 

 

Mas, tanto o excesso quanto a falta de água (eventos hídricos extremos) trazem danos não apenas para os homens, mas alteram, principalmente, a temperatura dos correspondentes ambientes onde ocorrem gerando mudanças climáticas significativas.

 

Como se aprende na Escola todos os corpos da natureza possuem o que se denomina energia térmica e não existe forma direta de saber quanta energia térmica um objeto ou corpo possui. Somente indiretamente é possível saber quanta energia térmica um corpo tem. Uma das formas indiretas de se avaliar a variação de energia térmica é por meio da temperatura.

 

Sabe-se, também, que corpos mais quentes (de temperatura maior) cedem energia térmica aos de temperatura menor; sendo que ao ganhar calor um corpo tem sua temperatura aumentada (e vice-versa).

 

Assim sendo, se a temperatura da água aumentar ou diminuir gerará alteração na temperatura do ambiente e o conjunto destas alterações vão mudar o equilíbrio do sistema climático das diferentes regiões com distintas intensidades podendo gerar mais eventos hídricos extremos e sérias consequências para a humanidade.

 

Tanto as secas quanto as estiagens sãofenômenos climáticos gerados pela insuficiência de precipitação pluviométrica por períodos muito grande. Todavia, enquanto a estiagem ocorre em um intervalo de tempo variável tem-se que a seca é permanente. Tais fenômenos ao gerarem importantes e significativos desequilíbrios hidrológicos provocam mudanças climáticas ainda mais preocupantes.

 

De outro lado, cheias, enchentes, enxurradas ou inundações são resultantes do excesso de água da chuva que provoca elevações do nível de água que podem ou não ultrapassar a cota máxima do canal natural por onde passam rios, mares ou oceanos.

 

Estes fenômenos onde há excesso no volume de águas são resultantes, também, de fenômenos de natureza meteorológicas ou hidrológicas ou são causadas pela interferência direta do homem. Entretanto, tais quais as secas ou estiagens, o demasiado volume de água contribui para mudanças climáticas gerando maior ou menor temperatura na Terra. 

 

Tanto as secas quanto as inundações são geradoras de prejuízos incalculáveis para as populações por elas afetadas. Cidadãos desabrigados, destruição de plantações, grandes contingentes de pessoas se deslocando de um lugar para outro, início de conflitos ou guerras em diversas regiões do globo, diminuição da produção de alimentos, ampliação de problemas sociais na população mais frágil e com saneamento precário, contaminação da água potável; são alguns dos graves problemas gerados.

 

Embora estudos e alertas estejam sendo realizados para tentar amenizar os efeitos para a humanidade dos eventos hídricos extremos existem muitas previsões nada animadoras para um futuro próximo. 

 

De acordo com prospecções da ONU o mundo enfrentará um déficit de 40% no abastecimento de água até 2030. Avaliações demonstram, também, que por volta de 2050 a demanda por água potável aumentará em 55% tendo em vista o aumento da população e o correspondente gasto de água para a produção de alimentos para alimentar toda a população do planeta.

 

Cabe observar que desde 22 de março de 1992 a ONU já divulgava a chamada “Declaração Universal dos Direitos da Água” na qual são listados aspectos importantes a seguir sobre a água dando destaque para a necessidade de preservação da água. 

 

Mas, para fazer cumprir a declaração em referência não se deve esquecer que cerca de 70% da superfície da Terra é coberta por água e que 97,5% da água do planeta é salgada não sendo permitida para consumo humano. Além do que, é estimado que cada ser humano necessita (em média) de 35 ml de água multiplicado pelo seu peso corporal para viver adequadamente; embora, se recomende que todos bebam, no mínimo, 2 litros de água diariamente.

 

De outro lado, não é permitido esquecer que um ser humano não pode ficar sem beber água entre três a cinco dias, pois do contrário irá falecer. Entretanto, segundo a ONU, cerca de 3 em cada 10 pessoas em todo o mundo não têm acesso a água potável e, somente, naqueles países ditos em desenvolvimento, a questão da falta de água para beber está relacionada com 80% das mortes ou enfermidades das pessoas, principalmente de crianças. 

 

Estudos revelam que as crianças com idade inferior a cinco anos são 20 vezes mais propensas a morrer de doenças geradas pela ingestão de água imprópria para beber ou devido à falta de saneamento básico do que aquelas que são mortas em guerras ou conflitos. É estimado, porém, que mais de 4,5 bilhões de pessoas não disponham de saneamento seguro no mundo.

 

Não bastassem as questões levantadas precedentemente tem-se ainda o intenso aumento no consumo de água pela população atual devido ao desenvolvimento. Segundo avalições especializadas este aumento foi multiplicado por seis no século 20; o que corresponde a duas vezes a taxa do crescimento da população mundial. Outra previsão aponta que já em 2025 o número de pessoas sem acesso à água potável deverá ultrapassar 3,5 bilhões. Tal situação agrava-se muito mais levando-se em conta que cerca de 80% dos empregos no mundo são dependentes dos recursos hídricos. 

 

Então, é urgente, sempre foi urgente na verdade, buscar soluções efetivas e inovadoras para sanar os diversos problemas relacionados com os recursos hídricos do planeta. 

 

Embora o uso racional e/ou consciente da água sejam ações, em dado sentido, suficientes para se amenizar os problemas em questão, é necessário priorizar medidas que visem conter a poluição ou contaminação da água, que promovam a diminuição do aumento da temperatura da Terra, que garantam o aumento das formas de oferta de saneamento básico, que aprimorem Leis sobre o uso da água tanto na comunidade em geral quanto nos meios de produção em particular, bem como que de um lado diminuam o desmatamento e de outro aumentem o reflorestamento.

 

Claro que, também, deve-se pensar na produção de energias renováveis, na minimização do consumo de energia para atingir eficiência energética, na diminuição da pegada de carbono, para citar algumas de outras possibilidades. 

 

Os cuidados com a água devem ser acentuados inevitavelmente, mas vão muito além da atenção com o consumo particular da água de forma consciente, pois é necessário, também, considerar procedimentos para conservar o gasto com a chamada água virtual que corresponde à pegada hídrica na produção dos múltiplos produtos que são gerados para a nossa existência.

 

A água virtual é a quantidade do recurso hídrico utilizada para produzir alimentos, remédios, transporte, maquinários, roupas, dentre outros produtos que fazem parte de nossas escolhas para viver ou hábitos para existir. Tudo que fazemos gera, inevitavelmente, algum tipo de impacto ambiental e necessita (direta ou indiretamente) de consumo hídrico. Por trás de tudo que fazemos existe uma quantidade enorme de água usada e que sequer temos a ideia de quanto é de fato.

 

Com conhecimentos sobre a pegada hídrica é possível verificar o impacto ambiental em termos hídricos para ajudar a estabelecer, mais criteriosamente, quais são os padrões de consumo e como proceder mais adequadamente para garantir menores alterações nos eventos hídricos extremos ou para se atingir melhoria na conservação da água.

 

Quanto mais mecanismos estiverem à disposição para podermos resolver os diversos problemas associados aos recursos hídricos finitos que temos tanto mais sustentável será o mundo que deixaremos para os nossos filhos e netos. Todavia, mesmo encontrando uma vacina para acabar com a COVID-19, sem o comprometimento de toda a humanidade com a água agora estamos fadados a em breve não existir mais na Terra como espécie.

 

 

 

*Artigo escrito pelo professor Carlos Magno Corrêa Dias, conselheiro efetivo do Conselho das Mil Cabeças da CNTU. 

 

 

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