Artigo - Recado claro
Ilustração: LaerteNão é coincidência; é causa e efeito. No mesmo dia em que os metalúrgicos da Renault voltaram ao trabalho depois de três semanas de greve vitoriosa em que a empresa foi obrigada a desfazer as 747 demissões, a GM negociou com o sindicato dos metalúrgicos de São Caetano um plano de lay-off e suspensão de contratos até março e um PDV no qual até um carro novo entrava como chamariz. Mas não demitiu.
A disposição das montadoras não era esta em junho quando a Nissan demitiu 398 trabalhadores em Resende e o presidente da Anfavea declarou que “o emprego está em risco sim”.
Em julho a diretoria da Renault resolveu “passar a boiada” com um pacote fechado de medidas lesivas aos trabalhadores e cuja maldade máxima era a demissão de 747 deles, muitos doentes e afastados.
A empresa apresentou ao sindicato um ultimato não admitindo a mínima discussão e implementando as medidas intempestivamente.
A reação dos trabalhadores e do sindicato foi imediata e em assembleia determinaram a greve que se generalizou nos turnos da empresa.
A condução sindical foi exemplar porque o sindicato e sua diretoria, liderada pelo presidente Sergio Butka, vinha desde sempre se preparando e se organizando como sindicato de luta e de força, unitário e representativo.
Ao mesmo tempo em que se sustentava na unidade dos trabalhadores agiu para ampliar os apoios no movimento sindical (até mesmo internacional), no mundo político, no mundo jurídico e na opinião pública, desencadeando um movimento familiar de apoio aos grevistas em defesa dos demitidos.
Com a atitude sindical firme a Justiça do Trabalho deu ganho de causa aos trabalhadores e o sindicato voltou a negociar com a empresa um protocolo que era encabeçado pela readmissão dos demitidos. A greve vitoriosa foi suspensa com votações presenciais e eletrônicas maciças dos trabalhadores e o recado foi claro: não às demissões, sim às negociações com o sindicato. A boiada não passou!
Parece que a GM e as montadoras em geral entenderam o recado dos metalúrgicos do Paraná.
Recado claro
Não é coincidência; é causa e efeito.
No mesmo dia em que os metalúrgicos da Renault voltaram ao trabalho depois de três semanas de greve vitoriosa em que a empresa foi obrigada a desfazer as 747 demissões, a GM negociou com o sindicato dos metalúrgicos de São Caetano um plano de lay-off e suspensão de contratos até março e um PDV no qual até um carro novo entrava como chamariz. Mas não demitiu.
A disposição das montadoras não era esta em junho quando a Nissan demitiu 398 trabalhadores em Resende e o presidente da Anfavea declarou que “o emprego está em risco sim”.
Em julho a diretoria da Renault resolveu “passar a boiada” com um pacote fechado de medidas lesivas aos trabalhadores e cuja maldade máxima era a demissão de 747 deles, muitos doentes e afastados.
A empresa apresentou ao sindicato um ultimato não admitindo a mínima discussão e implementando as medidas intempestivamente.
A reação dos trabalhadores e do sindicato foi imediata e em assembleia determinaram a greve que se generalizou nos turnos da empresa.
A condução sindical foi exemplar porque o sindicato e sua diretoria, liderada pelo presidente Sergio Butka, vinha desde sempre se preparando e se organizando como sindicato de luta e de força, unitário e representativo.
Ao mesmo tempo em que se sustentava na unidade dos trabalhadores agiu para ampliar os apoios no movimento sindical (até mesmo internacional), no mundo político, no mundo jurídico e na opinião pública, desencadeando um movimento familiar de apoio aos grevistas em defesa dos demitidos.
Com a atitude sindical firme a Justiça do Trabalho deu ganho de causa aos trabalhadores e o sindicato voltou a negociar com a empresa um protocolo que era encabeçado pela readmissão dos demitidos. A greve vitoriosa foi suspensa com votações presenciais e eletrônicas maciças dos trabalhadores e o recado foi claro: não às demissões, sim às negociações com o sindicato. A boiada não passou!
Parece que a GM e as montadoras em geral entenderam o recado dos metalúrgicos do Paraná
Artigo - Luto na pandemia e o negacionismo da Covid-19
Ritos culturais são significativos para nossas elaborações cognitivas e emocionais. No processo de luto, a pessoa precisa de uma passagem de fases, de um tempo para seu restabelecimento interno e reestruturação mental. “Sempre que se perde alguém querido é preciso enfrentar o processo de luto para sair dele fortalecido e ser capaz de seguir uma vida saudável.” (Bromberg, 1999).
A psiquiatra Kluber-Ross (1926-2004), em seus estudos com pacientes paliativos, identificou cinco fases do luto, que tanto aquele que se encontra nos momentos que antecedem a morte como seus familiares e amigos vivenciam como mecanismo para lidar com essa realidade tão sofrível. São elas: negação; raiva; negociação/barganha; depressão; e aceitação. Hoje, já se sabe que essas fases do luto também são sentidas em todo o processo que envolve uma perda.
Até mesmo durante este momento de pandemia, desde seu início até agora, percebem-se essas fases nos comportamentos sociais. Identificamo-nos com a dor do outro pela projeção dos nossos sofrimentos. Fica mais suportável chorar pela tragédia de alguém do que encarar a própria dor. Essa é uma das razões por que algumas pessoas são tão atraídas por programas de TV que vendem a desgraça alheia e por postagens da internet com assuntos e imagens chocantes. Além disso, quando presencio a morte do outro, é o momento que me sinto tão distante da minha.
Entretanto, devido à urgência de medidas protetivas na quarentena, as nossas habilidades de resiliência, ressignificação e enfrentamento estão voltadas ao modus operandi de sobrevivência. Sabiamente, nossa linguagem intraverbal e padrões de aprendizado cognitivo-comportamental nos protegem de outros estresses que não estão voltados a esse objetivo. Assim, não nos permitem fragilizar com algo que não está sob nosso controle, mesmo que a perda seja de um ente muito próximo. Neste momento, todos os nossos recursos estão voltados para o “salve-se quem puder”. Sem dúvida, após cessar o “estado de alerta”, o sofrimento pela perda virá com mais intensidade.
“A autorização (para sofrer) é um dos elementos mais libertadores para trabalhar com o luto” (Elaine Alves, 2012), porém não nos está sendo permitido, tanto pelas nossas defesas cognitivas quanto pela própria situação social de risco que a Covid-19 impõe.
Normas sociais de prevenção desautorizam velar e sepultar nossos mortos da maneira como precisamos. As famílias não podem consolar umas às outras, pela necessidade de afastamento social. As igrejas e templos estão fechados e não conseguimos “encaminhar as almas” de quem amamos. Não dá tempo para chorar por dias, com pesar, com lembranças e saudades, até que nossa própria alma “fique lavada”.
Além desses rituais concretos e simbólicos, a Psicologia do Estudo da Morte fala da necessidade de velar o corpo, para que a mente se convença da morte. O comportamento de ficar olhando para o morto no caixão convence a mente da morte. Também é importante que se faça um velório longo, para que todas as despedidas sejam feitas; para que amigos e parentes contem suas histórias sobre o falecido(a); e para que se chore de forma autorizada, socialmente, acompanhado e apoiado no sofrimento. Cada um desses ritos ajuda na elaboração do luto.
No meu entendimento, essas duas situações impostas pela pandemia, luto velado e estado de autossobrevivência, provocam essa negação generalizada da realidade de uma grave doença pandêmica. A maioria das pessoas, em diferentes países do mundo, não possui recursos internos para lidar com situações tão novas e inesperadas e quando estão ligadas à possibilidade de morte nossas defesas mentais, cognitivas, não são hábeis para uma adaptação tão urgente como necessário.
Minha orientação é que busquem apoio de profissionais da saúde mental, para se instrumentalizar dessas habilidades que o “novo normal” requisita. Caso não esteja familiarizado com os benefícios que uma psicoterapia pode lhe proporcionar, fale com seu médico de confiança. Conte suas angústias, dúvidas, medos e receba orientações para cuidar da sua saúde física e mental.
* proprietária e psicóloga do Espaço Mente&Corpo NM, é terapeuta cognitivo-comportamental, especialista em Terapia Comportamental pelo Hospital Universitário do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (HU-Ipusp) e em Terapia Cognitivo-comportamental pelo Ambulatório de Ansiedade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Amban-IPq-HC-FMUSP), com aprimoramento em Luto, Depressão e Prevenção de Suicídio
Artigo - Coração, razão e atitude
Já se inscreveu na história das lutas dos trabalhadores a greve que dura mais que duas semanas dos metalúrgicos da Renault, dirigidos pelo sindicato, em protesto contra o pacote impositivo da empresa e a demissão de 747 trabalhadores.
Ao completar os 16 dias os grevistas obtiveram grande vitória com a decisão da juíza do Trabalho, Sandra Mara de Oliveira Dias, que mandou reintegrar os trabalhadores demitidos julgando a denúncia da Procuradoria do Trabalho e atendendo ao pleito do sindicato e dos seus advogados.
Com a euforia justificada – dias e dias de protestos, manifestações, reuniões, acampamentos, lives e comunicações, passeatas de esposas e filhos e a fábrica parada – os dirigentes, comandados com firmeza pelo presidente Sergio Butka, resolveram (apoiados pelos diretores sindicais que atuam na empresa) realizar ontem, quinta-feira, uma assembleia dos demitidos e aguardar o posicionamento da empresa que entendesse a motivação essencial do sindicato – negociação já! – e atendesse as justas reivindicações dos trabalhadores desfazendo o mal feito condenado pela juíza, pela opinião pública e registrado pela mídia grande.
O exemplo de luta dos metalúrgicos da Grande Curitiba, sua unidade e sua determinação, bem como a inteligente direção sindical que os anima, fulgura como miodelo de luta neste momento tão difícil para os trabalhadores e para o povo brasileiro com 100 mil mortos e 3 milhões de adoecidos.
À solidariedade manifestada nacionalmente (e até internacionalmente) soma-se agora o regozijo de todos pelo desfecho próximo da luta.
O coração, a razão e a atitude a todos convencem que a resistência é possível (desde que preparada laboriosamente) e que a luta faz a lei, como estava escrito em uma das barracas mais concorridas dos acampamentos nas portas da fábrica.
* Consultor sindical
Artigo - Enquanto a vacina não vem
Ainda que haja possibilidade de iniciar a imunização no início de 2021, o bom senso recomenda manter as medidas preventivas. Podemos e devemos agir para que a triste marca dos 100 mil mortos, hoje já ultrapassada, não se multiplique tragicamente nos próximos meses.
Covid-19 aumenta o total de pessoas com transtornos mentais
A pandemia vem proporcionando inúmeros danos à sociedade. Uma das graves questões relegada a segundo plano corresponde aos transtornos mentais que impactavam a vida das pessoas de forma determinante muito antes, mas que promoverão, pós-Covid-19, um desastre de grandes proporções.