O boi e o cavalo
É inegável que o sistema das confederações sindicais é menos partidarizado que as centrais.
Isto acontece por algumas razões estruturais.
Em primeiro lugar, as confederações fazem parte da estrutura sindical constitucional de origem e possuem uma representação estruturada ao longo de décadas.
Na maior parte de sua existência elas foram o vértice superior da estrutura, que interditava a existência de centrais.
Estas, para existirem, tiveram que “fazer política” e em alguns casos, devido à singularidade brasileira da transição da ditadura para a democracia, confundiram-se com uma organização partidária. De cada presidente atual de todas as principais centrais (reconhecidas ou não) destaca-se o pertencimento a um partido político e até mesmo suas funções relevantes na vida partidária (com exceção da Nova Central).
Em segundo lugar, devido ao mandamento constitucional e à experiência brasileira de pluralidade nas cúpulas e unicidade na base, as confederações – apesar de seus relacionamentos com as estruturas das centrais – perseveraram em seu papel estruturante na pirâmide sindical. Um exemplo forte é o da Contag. Isso faz com que nelas predominem a dinâmica “sindicaleira” que é, por definição, apartidária.
E, finalmente, enquanto nas centrais há uma dinâmica real de relacionamento entre a direção nacional e os sindicatos para as mobilizações e campanhas, na rede sindical das confederações é muito forte a mediação federativa, o que “freia” a eventual partidarização, porque tem que realizar tarefas de representação e negociação legais. O Fórum Sindical dos Trabalhadores é um exemplo disto.
As centrais sindicais são, por sua criação, existência e programa, mais “abertas” à dinâmica política da sociedade (e, portanto aos partidos existentes), enquanto que a rede confederativa é mais “fechada” em termos de categoria e corporação sindicais.
Se o risco de divisão do movimento sindical decorre das polarizações partidárias, o sistema confederativo (autônomo em relação às centrais ou fazendo parte delas) é o campo privilegiado para se reforçar a unidade de ação sindical, principalmente na atual fase defensiva do movimento.
Para tanto, deve-se somar a dinâmica sindical das confederações à politização correta das centrais, sem partidarizações, para se garantir a unidade de ação de resistência – nenhum direito a menos.
É como se atrelássemos um boi e um cavalo para empurrar a carroça.
joao guilherme vargas nettoJoão Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical
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Cautela e caldo de galinha
A previsão de um feliz 2017 é muito difícil de ser feita. Se alguém a faz, esconde uma ponta de hipocrisia.
A recessão é forte e apenas um pudor midiático esconde sua verdadeira face depressiva. O desemprego continua crescente, os salários perdem para a inflação renitente e o colchão social se esgarça.
No fim do ano passado o governo anunciou algumas medidas para tentar recauchutá-lo. Refiro-me, por exemplo, ao acesso dos trabalhadores às suas contas inativas do FGTS.
Cada Sindicato deve, independentemente de seu julgamento sobre a intenção do governo e sobre o alcance da medida, ajudar os trabalhadores de sua base (filiados, antigos filiados, não filiados e desempregados) a garantir, com presteza e correção, o benefício.
Leve-se em conta que a alta rotatividade e o período anterior de formalização dos empregos fizeram com que os trabalhadores “rodassem”, dentro e fora de sua categoria original.
Com o quadro recessivo e o previsível esgotamento da capacidade de endividamento dos trabalhadores, a utilização mais provável desses recursos adicionais deve ser, de imediato, o pagamento de dívidas e não a circulação do dinheiro em compras novas.
Registre-se, mais uma vez, que na situação hegemônica da bancolândia e do rentismo, estes setores sempre saem ganhando, mesmo quando o trabalhador é contemplado (algo parecido com o que acontece no crédito consignado).
Mas, um risco adicional assombra os trabalhadores em 2017: o risco da divisão do movimento sindical, que dificultará o êxito de sua resistência nas mobilizações e no Congresso Nacional e poderá oferecer ao barata-voa da política os pretextos para piorar ainda mais as reformas pretendidas – e encaminhadas – pelo governo.
A convicção solitária e a precipitação não serão nunca garantia de nada, muito menos de acerto.
Assim como o povo recomenda para uma mulher recém-parida, recomenda-se para todo dirigente sindical cautela e caldo de galinha, que não fazem mal a ninguém.
João Guilherme Vargas Netto é analista político e consultor sindical
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