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04/09/19

Artigo - Sobre Setembro Amarelo e as boas intenções

Ana Suy Sesarino Kuss*

Freud diz que a morte é um conceito abstrato sem nenhum correlativo no inconsciente. Isso quer dizer que não temos inscrição psíquica para a morte. Ou seja, quando alguém diz que quer morrer, essa pessoa não está mesmo querendo morrer, porque a gente não sabe o que é a morte, para querê-la. O que se apresenta como desejo de morte, então, é o desejo de cessar a dor, de parar o sofrimento, de estancar a angústia.

Em tempos em que medicamos quase tudo cedo demais, temos que tomar cuidado para não retirar do sujeito em sofrimento a possibilidade de fala. Os medicamentos, quando necessários, precisam atuar em favor de um trabalho psíquico.

No caso de um trabalho de análise, é preciso transformar sofrimento em palavra. É claro que falar de uma dor não é o mesmo que eliminá-la, por vez pode até aumentá-la temporariamente, mas é preciso apostarmos em algo. E uma vez que somos sujeitos de linguagem, afetados pelo Outro, não há nada que nos segure na vida a não ser o laço com os outros. "Sentido da vida" é um verbo que se conjuga na relação com as pessoas da nossa história.

Diferentemente dos animais, que nascem prontos para viver, nós, humanos, nascemos prontos para morrer. São nossos pais, mais especialmente nossa mãe (ou quem faz a função materna), que decide nos fazer viver: nos ama, nos deseja, nos alimenta, nos aliena no campo do desejo dela, primeiramente (e depois, na melhor das hipóteses nos ajuda a promover uma separação), e assim nos propicia isso que a gente chama de vida: um desvio na morte.

Não há notícias de um ser humano sequer que tenha escapado em definitivo da morte, e é próprio do nosso psiquismo imaginarmos, ou mesmo desejarmos nossa morte, em alguns momentos.

É só na medida em que simbolizamos esse desejo de morte, que ele pode se transformar em desejo de vida... enquanto ela houver.

É preciso que haja escuta qualificada e muito cuidado na condução do tratamento.

A grande importância do setembro amarelo está na oferta de espaços para falarmos disso. Porque quando a angústia escoa pela palavra, ela já não tem a mesma força. Aquilo que vira palavra se torna material de trabalho, mas com aquilo que não tem palavra para dizer, tem-se muito pouco a fazer, é do reino da pulsão de morte.

Os estudantes de psicologia, em geral, muito bem intencionados, se disponibilizam via redes sociais, a conversar sobre isso com quem desejar. Então, meu pedido aqui é: cuidem com as "boas intenções" nesse setembro amarelo. Não basta papear um pouco inbox com alguém que está inundado em angústia. E, frequentemente, a tentativa de animar alguém, pode ter efeito contrário e a pessoa se sentir ainda pior e mais inadequada. Não encarnemos o "coach quântico da moda" com frases motivacionais que se tornam vertentes mortíferas do superego.

Recomendemos ajuda profissional a quem precisa!


Ana Suy bonecoAna Suy bonecoAna Suy Sesarino Kuss é doutoranda em Pesquisa e Clínica em Psicanálise pela UERJ. Mestre em Psicologia pela UFPR (2014). Possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (2007) e pós-graduação em Psicologia Clínica - Abordagem Psicanalítica pela Pontifícia Unversidade Católica do Paraná (2009). Trabalha com atendimento psicanalítico em consultório, é professora da graduação do curso de Psicologia do Centro Universitário Unibrasil e de várias pós-graduações. Autora dos livros "Amor, desejo e psicanálise" (publicado pela Editora Juruá - 2015) e "Não pise no meu vazio" (pulicado pela Editora Patuá - 2017). Artigo publicado em perfil de rede social @anasuy.



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