Emprego tem, mas é preciso qualificar-se
As oportunidades continuam em alta, porém não se encontra pessoal qualificado para desenvolver pesquisas e inovação tecnológica. A ausência da capacitação técnica requerida pelas empresas
A categoria, que amargou anos sem trabalho, tem reencontrado finalmente o merecido espaço no mercado de trabalho. As oportunidades continuam em alta, porém, como destaca a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), “não se encontra pessoal qualificado para desenvolver pesquisas e inovação tecnológica”. A ausência da capacitação técnica requerida pelas empresas é o motivo de haver engenheiros que não têm conseguido recolocação. Quem afirma é Antonio Octaviano, diretor-geral do Isitec (Instituto Superior de Inovação e Tecnologia). “Daí, tem-se aparente contradição entre falta e sobra de pessoal.”
O mercado continua demandante, não obstante segundo a Fiesp o crescimento do produto nacional esteja neste início de década aquém do estimado. “O valor da transformação industrial acumulou queda de 1,8% nos últimos anos e o aprofundamento da crise internacional e a concorrência asiática ameaçam a competitividade.” A despeito disso, “nos anos 2000, a demanda cresceu 8,1% ao ano e a oferta, 5,8%.” De acordo com a assessoria de comunicação da entidade, sem a qualificação devida, isso gera carência de profissionais.
Os setores de projetos e bens e serviços relacionados à exploração e produção de petróleo e gás natural são os mais afetados. Conforme reportagem publicada pelo jornal A Tarde, de Salvador, em 31 de julho último, serão necessários mais de 200 mil profissionais até 2015 para suprir a demanda nessa cadeia. Hoje, o Brasil forma em todas as áreas cerca de 45 mil por ano, estima José Roberto Cardoso, diretor da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) e coordenador do Conselho Tecnológico do Seesp. Mão de obra altamente valorizada, o que tem refletido em melhor remuneração.
Esse cenário tem se verificado também no setor de construção civil, como observa Paulo Simão, presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção). Ele afirma que em pesquisa recente, encomendada por essa entidade ao Instituto Sensus, “foi possível constatar que o trabalhador da construção está mais satisfeito com a profissão”, em especial devido aos benefícios oferecidos pelas empresas. O que tem motivado, ainda de acordo com ele, essa mão de obra a qualificar-se para ocupar cargos mais altos e pode fazer frente ao desafio de se encontrar pessoal capacitado também nesse segmento – em ascensão desde 2004. Segundo o presidente da CBIC, volume expressivo de empresas tem promovido ações de estímulo nesse sentido, bem como para “despertar o interesse de jovens pela atividade da indústria da construção”. Além disso, acrescenta, “estão sendo desenvolvidas parcerias para programas de treinamento dentro e fora dos canteiros de obras”.
No setor de infraestrutura, Lineu Afonso, vice-presidente de Ética e Proteção à Consultoria do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva), a situação não é diferente. “O grande problema é que houve um período em que o setor ficou muito parado, não se formou mão de obra. Tem-se hoje um grande esforço, por um lado, treinando-se o jovem e, por outro, para reaproveitar profissionais que praticamente tinham saído do mercado e podem ajudar nessa formação dos novos.”
As exigências têm se sentido na busca por cursos de especialização, segundo Cardoso. Ele enfatiza que engenheiros com experiência e boa qualificação são “raros, muito procurados e estão ganhando muito bem”. Consequentemente, tem havido importação de mão de obra, sobretudo da Espanha e Itália, “cuja economia está decrescente nesta época”. Cardoso destaca, no entanto, que as perspectivas são boas. “A engenharia retomou sua dignidade, a evasão tem diminuído e os jovens voltaram a se interessar pela profissão.” O que deve solucionar ao longo do tempo o problema de ainda sair da universidade número inferior à demanda.
No cenário atual, outra transformação importante é percebida pelo diretor da Poli: a presença de mulheres é cada vez mais buscada. De acordo com ele, há preocupação mundial em atrair cada vez mais essa parcela da população – ainda bastante reduzida nas profissões da área tecnológica no Brasil (apenas 14% do total) – para a área. O que fica evidente, diz, é que “não basta ter competência técnica, é preciso ter conhecimentos específicos para trabalhar num ambiente globalizado”. Assim, o domínio de outros idiomas, em especial o inglês, é crucial, bem como da cultura de outros países.
Diante disso, Afonso, do Sinaenco, é categórico: “Qualificação tem que ser política de Estado.” O que vai ao encontro de proposta da CNTU (Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados). A organização propugna por um sistema nacional para tanto, com definição em lei de período para reciclagem da mão de obra, durante a jornada, sem ônus aos profissionais.
Entidades em ação
À necessidade imediata de acelerar a formação, Simão acredita que algumas iniciativas podem ajudar. Entre elas, o PIT (Programa Inovação Tecnológica), desenvolvido pela CBIC, juntamente com diversos outros parceiros. “A meta é contribuir para aumentar a difusão das novas tecnologias construtivas junto ao universo de mais de 170 mil empresas formais do setor existentes no País.”
Já o Isitec, sediado em São Paulo, a partir de agosto, passará a oferecer cursos de extensão e educação continuada. E no primeiro semestre de 2013, a depender de autorização do Ministério da Educação, receberá a primeira turma de graduação em engenharia da inovação. “É a resposta concreta do Seesp (entidade mantenedora da nova escola) a essa situação. Dará contribuição efetiva ao formar profissionais voltados à inovação, um dos gargalos no processo de desenvolvimento econômico nacional”, conclui Octaviano. (Soraya Misleh)
Fonte: FNE
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