Mais de 50 Instituições Federais de Ensino em greve
Governo pede prazo até 31 de Julho mas argumentos não convencem movimento a parar a greve ou deixar de pressionar por negociações já.Grevistas querem reestruturação da carreira, que valorize o trabalho
A greve nas instituições federais de ensino cresce a cada dia, com mais professores e estudantes aderindo à mobilização. As últimas instituições a paralisarem suas atividades foram a Universidade Federal do ABC, a Universidade de Integração Latino Americana e o Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio de Janeiro. No total, já são 51 instituições federais em greve.
Diariamente, chegam ao Comando Nacional de Greve moções de apoio à mobilização. A Associação dos Geógrafos Brasileiros encaminhou uma nota em que manifesta seu apoio à greve, “realizada por melhores condições de trabalho, o que implica na crítica ao sobretrabalho, que precariza o próprio desempenho profissional e o alcance dos resultados que a Universidade deve construir para a sociedade e junto com a sociedade.”
Veja a posição da universidade e dos professores da instituições federais em greve.
Nesta semana, o Conselho Universitário da Universidade Federal Rural de Pernambuco aprovou uma nota reconhecendo a greve dos docentes e manifestando-se “pela necessidade de diálogo e negociação efetiva entre o Governo Federal e as representações sindicais, visando à valorização dos servidores das Ifes”. Destaca ainda, o papel fundamental das Universidades Federais na promoção de um ensino superior público, gratuito e de qualidade, da pesquisa e da extensão, e que para “a consecução plena de nosso papel, é de extrema importância a valorização de seus servidores, docentes e técnico-administrativos, bem como de seus estudantes.”
Reunidos na terça-feira (5) em assembleia convocada pela Comissão de Mobilização, professores e estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina manifestaram apoio e solidariedade à greve nacional dos professores da Ifes. “Reivindicamo-nos parte desta luta e estamos buscando a ampliação da mobilização e união da comunidade acadêmica na UFSC para engrossar este vigoroso movimento”, afirma a nota.
O Movimento Classista dos Trabalhadores em Educação (Moclate) também manifestou apoio à greve dos docentes das federais. Para o Moclate, “o sucateamento e a precarização das instituições públicas de ensino, desde a educação básica, é parte da essência do que são as políticas deste velho Estado e o seu sistema de poder, das classes parasitárias e o seu sistema de governo sob o gerenciamento do oportunismo.
O texto critica, ainda, as “reformas educacionais” ditadas pelo Banco Mundial, tais como “PCNs” e “Diretrizes Curriculares“ (gerência FHC), “Prouni” e “Reuni” (gerência Luiz Inácio), só servem para impor uma educação domesticadora, servindo aos interesses do capital monopolista, da dominação imperialista do nosso país.”
Para o Moclate, o Reuni exigiu uma expansão irresponsável sem aplicação de investimentos para salas de aula, laboratórios, acervo bibliográfico, pesquisa e extensão e, ao mesmo tempo, “intensificou seu nefasto plano de precarização do trabalho docente com a contratação de professores temporários em número insuficiente para atender os novos cursos.”
Após 20 dias de greve, MEC chama professores federais para reunião
Diretores do ANDES-SN e representantes do Comando Nacional de Greve dos professores federais foram recebidos na terça-feira (5) pelo Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, durante a manifestação dos servidores públicos federais na Esplanda, que reuniu mais de 15 mil servidores.
Esta foi a primeira reunião do Comando Nacional de Greve com representantes do governo desde que a paralisação foi iniciada em 17 de Maio.
Mercadante informou aos docentes que o processo de negociação seguirá e que o Ministério do Planejamento deve voltar a se reunir com as categorias na próxima semana. No entanto, o Ministro ressaltou a questão do prazo de 31 de julho e disse que é necessário aguardar o desdobramento da crise financeira internacional para avaliar o impacto que terá na economia do país.
O ANDES-SN destacou que o tempo é uma questão política e que, agora, com o argumento do impacto no orçamento o governo está deturpando o método negociado e invertendo a lógica do que foi firmado no acordo emergencial de 2011, que prevê discutir primeiro a estrutura da carreira docente e depois o quanto a reestruturação irá custar e em quanto tempo ela será implementada.
“A greve é forte e o chamado do Ministro para a reunião reafirma isso. Já são 51 instituições paradas. Nós queremos a reestruturação da carreira, para uma mais simples, que valorize o trabalho docente e permita oferecermos ensino de qualidade. Para isso precisamos também de condições de trabalho, de salas de aula, laboratórios, bibliotecas”, disse Marina Barbosa, presidente do ANDES-SN, em entrevista após a reunião.
Ela ressaltou que a precariedade que vimos hoje é consequência de uma política de expansão desordenada e sem qualidade via Reuni, por isso o movimento quer também discutir os prazos e os critérios de distribuição entre as Ifes, dos novos cargos criados.
Marina destacou também que o movimento compreende os problemas apontados pelo ministro, mas que eles não podem servir mais uma vez de desculpas para que as negociações não avancem.
“Na nossa opinião, o acordo emergencial não foi cumprido e o prazo nele estipulado já venceu [31 de março]. Na última reunião antes da greve, em 15 de maio, o governo nos apresentou a mesma proposta de dezembro de 2010. Ou seja, as negociações não avançam”, finalizou.
Fonte: ANDES-SN e Consciencia.net