Setor privado conta com mais médicos do que a rede pública
CFM e Cremesp concluíram que não há falta de médicos no País, e sim de políticas que levem a uma melhor distribuição dos profissionais. Na região sudeste a distribuição &eac
A oferta de médicos por usuário na rede privada é quatro vezes a oferta no Sistema Único de Saúde (SUS). A cada mil usuários de planos de saúde há, em média, 7,6 postos de trabalho médico ocupados. Na rede pública, essa relação cai para 1,95. A disparidade vai a extremos em estados do Norte e Nordeste, segundo mapa feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp).
Considerando o número de pessoas atendidas em cada rede, o abastecimento de médicos no setor privado é 12 vezes o da rede pública na Bahia, 9,7 vezes no Acre e 9,6 vezes no Pará. Os dados consideram oferta de postos de trabalho e não quantidade de médicos registrados. Consultórios particulares não entraram na conta.
Os índices de disparidade refletem falta de investimento no SUS, segundo análise do estudo. No Sudeste, a distribuição é mais homogênea e chega a haver inversão nas ofertas. O SUS é mais bem abastecido de médicos que a rede privada, em relação aos usuários, nas capitais Rio de Janeiro, Vitória e São Paulo.
Segundo Mário Scheffer, coordenador do estudo, o Brasil tem diversas taxas de densidade médica, desde as comparáveis às de países africanos até às de europeus. "Mas é difícil relacionar o dado brasileiro a outros países pela forma única do sistema no País", afirma Ligia Bahia, professora de saúde coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Na Inglaterra, o sistema é quase todo público; nos EUA e na França, os hospitais são privados, mas podem receber financiamento do seguro de saúde pública. O Brasil é dividido em hospitais públicos e privados, que, às vezes, atendem também ao SUS.
Não faltam médicos
CFM e Cremesp concluíram que não há falta de médicos no País, e sim de políticas que levem a uma melhor distribuição dos profissionais. Os conselhos criticaram a abertura indiscriminada de novos cursos de medicina, que ampliam a reserva de profissionais, e a falta de recursos para o setor.
"As oportunidades para os médicos na área privada são maiores por causa de um certo protecionismo e imobilismo na esfera pública", diz o oftalmologista Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein.
O ministro Alexandre Padilha (Saúde) disse que é prioridade do governo formar médicos com qualidade e estabelecer mecanismos que direcionem profissionais para o interior, para o SUS e para regiões carentes. Padilha diz que já existe desconto na dívida do financiamento estudantil para médicos que trabalhem no SUS em regiões desfavorecidas. O estudo atestou que há menor proporção de médicos no interior do País.
O documento ainda mostrou maior atuação de mulheres na profissão - são maioria na faixa até 29 anos - e a divisão de médicos em vários empregos e longas jornadas. Em São Paulo, há jornadas de mais de 50 horas semanais
(Folha de S.Paulo)
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