ONU debate a saúde global e o resultado deixa a desejar
O conflito de interesses entre a indústria do tabaco e a saúde pública ficou bem estabelecido na declaração final, mas outros grupos como a indústria de alimentos e de bebidas que a ONU chamou de “sociedade c
Foram dois dias de debates intensos. Durante a ll Conferência sobre saúde global que ocorreu em Nova York, os dias 19 e 20 de setembro foram dedicados às Doenças Não Transmissíveis (DNT). As mais frequentes são o diabetes, o câncer, as doenças cardiovasculares, e as doenças respiratórias crônicas. Os estados membros das Nações Unidas revelaram o montante do problema. Morrem anualmente 36 milhões de pessoas vitimadas por essas doenças em todo o mundo, a maioria dos casos seria passível de prevenção e tratamento. Nove milhões dessas mortes vitimam pessoas com menos de 60 anos e parece que a ocorrência dessas doenças vem se antecipando e acometendo pessoas mais jovens a cada ano que passa.
Os fatores de risco já eram conhecidos e foram reafirmados como os quatro pontos básicos a serem confrontados no combate às DNT: o tabagismo, o abuso do álcool, o sedentarismo e a alimentação inadequada. Para combatê-los, as ações governamentais deveria atuar no controle do uso do tabaco e do álcool, na detecção e tratamento das doenças cardiovasculares e do diabetes, no controle da pressão arterial e na implementação de dieta adequada. As principais metas nutricionais seriam a adequação do consumo de sal em até 5g ao dia, a redução das gorduras saturadas e controle calórico no combate à obesidade.
Os doentes e suas famílias, a sociedade, os sistemas de saúde e os países como um todo pagamos a conta. De acordo com o Fórum Econômico Mundial ela será de 30 trilhões de dólares nos próximos 20 anos e ninguém está imune. Em jogo estão as vidas de milhões de pessoas que sofrem necessidades básicas e morrem prematuramente por falta de ações governamentais no sentido de prevenção das DNT.
Dessa forma, a Conferência das Nações Unidas poderia ser a oportunidade para se construir um compromisso internacional no sentido da prevenção e controle dessas doenças. Isso poderia ser levado adiante através de nova legislação que daria aos setores de saúde de cada país as bases para atuarem sobre os fatores de risco, minimizando suas consequências. Infelizmente o esperado não aconteceu. Um longo documento de compromissos foi aprovado sobre as pressões governamentais e de lobistas e com muitas brechas a serem completadas nos próximas Conferências. Um exemplo disso foi a falta na determinação da redução do sal para garantir uma ingestão máxima de 5g ao dia.
O conflito de interesses entre a indústria do tabaco e a saúde pública ficou bem estabelecido na declaração final, mas outros grupos como a indústria de alimentos e de bebidas que a ONU chamou de “sociedade civil” solicitaram uma abordagem voluntária do problema ao invés de uma abordagem regulatória como esperávamos. Um defensor da regulação comparou essa situação “ a deixarem o aconselhamento do banco de sangue ao Drácula “.
Em resumo, o evento em Nova York foi menos comprometido do que esperávamos e seu documento final, nas palavras do editor da revista The Lancet, “ foi mais uma declaração politicamente correta e menos um documento político de guerra contra as DNT. Faltaram objetivos concretos, ações específicas para alcançá-los e metodologia para avaliar seus resultados. Cada país deve, agora, tomar suas próprias medidas com bases nas orientações que constam nesse longo documento, se é que algum progresso real possa ocorrer a partir dessa conferência.