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31/07/15

Acadêmicos debatem retomada do desenvolvimento

No seminário, que antecedeu eleição da nova diretoria da Andifes, quatro economistas apontaram fatores responsáveis pela crise econômica, traçaram um panorama atual e fizeram previsões para os mercados internos e externos.

 

Em meio a um cenário de crise nas universidades federais, diante de cortes orçamentários, e de greve em defesa de reposição salarial, acadêmicos da área econômica sugerem medidas para o País retomar o rumo do desenvolvimento de longo prazo, adotando reformas estruturantes. O entendimento é de que a atual turbulência econômica seja de curto prazo.

O debate fez parte de um seminário realizado na sede da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), em Brasília, na manhã de terça-feira, 28, onde se reuniram mais de 100 reitores das universidades federais. O evento aconteceu horas antes do processo eleitoral dos novos dirigentes da instituição.

A nova presidente da Andifes, Maria Lúcia Cavalli Neder, reitora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), ficou de formalizar na quarta-feira, 29, um pedido de reunião com o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, e com a presidente Dilma Rousseff, para tratar dos problemas das universidades.

No seminário, quatro economistas apresentaram aos reitores, resumidamente, alguns dos fatores responsáveis pela crise econômica e traçaram um panorama atual, bem como previsões para os mercados internos e externos.

Na visão dos economistas, a crise econômica foi influenciada por uma combinação de fatores. Dentre os quais, o arrefecimento da economia mundial, com destaque para a China, onde a redução do consumo provocou queda de quase 20% nos preços das commodities mundiais (grãos e minério) nos últimos 12 meses; a elevação das despesas correntes do governo acima do Produto Interno Bruto (PIB), motivada pelos gastos sociais; a queda generalizada na produção dos setores da indústria de transformação; o crescimento da taxa de desemprego; a falta de perspectiva do consumidor na economia e, também, o pessimismo na decisão de investimentos dos empresários diante de uma demanda reprimida.

Segundo eles, a crise econômica interna juntou-se à externa e foi agravada pela crise política e pelos casos de corrupção na Petrobras, escancarados pela Operação Lava Jato.

A reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Soraya Soubhi Smaili, que acompanhou o seminário do lado da plateia, considerou fundamental a discussão abrangente sobre a questão orçamentária e as projeções econômicas traçadas para este ano e para 2016.

Smaili sugere que a universidade, que sofre os impactos da crise, entre no debate sobre as questões econômicas. “É nas universidades que estão as ideias. Precisamos trazer o crescimento de volta, ter mais investimentos em infraestrutura e na industrialização, criando um ciclo virtuoso na economia e, paralelamente, nas universidades.”

Costura política

Julio Sergio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e professor da Unicamp, acredita que a saída seja “recosturar” a área política. “Estou torcendo para que o pior da economia aconteça nos dados que vão sair no segundo trimestre deste ano. Torço para que esse seja o fundo do poço. Assim, é possível pensar em uma melhora, até porque a economia caiu demais”, disse ele no seminário.

Para Almeida, é necessário adotar medidas para resgatar a confiança dos agentes econômicos. “Se conseguirmos costurar minimamente a política é possível engatar alguns programas em que as pessoas possam acreditar que são iniciativas para uma reexpansão da economia. A área de infraestrutura pode ser um desses programas”, acrescentou. Ele prosseguiu: “empresários desanimados não investem e consumidores desanimados não consomem”.

Na opinião do ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, o momento é de reflexão. “Essa é hora de repensar as coisas, de repensar os papéis da educação e da universidade; e de pensar em uma redefinição de como financiar a economia, inclusive os programas sociais, ou até mesmo o padrão de gasto do governo”, analisou.

Nesse contexto, Almeida criticou os gastos correntes excessivos, que crescem entre 4% e 5% ao ano, acima do PIB. E vale lembrar que este ano a economia apresenta queda. “Para acompanhar esse ritmo a economia também teria que crescer 4% ao ano, a não ser que se dê um calote nos gastos sociais.”

Segundo Almeida, a atual crise pode ser interpretada como um sintoma do esgotamento do modelo de refinanciamento da economia (pautado em gastos elevados), bancado por um sistema de arrecadação tributária excessiva. “Crise é quando se esgota um padrão.” Para ele, um novo modelo de financiamento da economia envolveria, dentre outros pontos, a estrutura tributária.

Política industrial

Já o professor Ricardo Alberto Bielschowsky do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) defendeu uma política agressiva para industrialização. Ele acredita que “o escorregão” econômico do Brasil decorre, em parte, da insustentabilidade do modelo adotado para o comércio exterior. Ou seja, pautado na exportação de soja e minério e em estímulo ao consumo interno sem adotar uma política industrial agressiva para garantir a demanda futura (com bens de valor agregado) e enfrentar a concorrência chinesa.

Citou o rombo na balança comercial do setor de alta e média tecnologia que cresceu de US$ 7,9 bilhões, em 2005, para US$ 93 bilhões em 2014. Ele também defende uma taxa de câmbio mais competitiva para o setor industrial. Para Bielschowsky, a inovação também ficou a desejar em uma década.

Medidas de longo prazo

Fernando Sarti, doutor e diretor do Instituto de Economia da Unicamp concorda que o País precisa retomar a capacidade de investimento produtivo para voltar a crescer. “Precisamos separar o que é de curto e de longo prazo. O País precisa pensar no que ele quer para o futuro”.

Mesmo que o ajuste fiscal implique em dificuldades para universidades arcarem com despesas de custeio e na reposição salarial, Sarti considera fundamental focar em medidas no desenvolvimento de longo prazo, no investimento da eficiência produtiva e na competitividade brasileira. “O ajuste fiscal não significa uma redução permanente de gastos. Queremos, talvez, repensar o gasto: investir mais em educação, em infraestrutura e no sistema produtivo”, disse.

Ele considera “balela” o discurso de que o Brasil gasta mais do que arrecada. Para ele, um dos problemas do País é o esforço financeiro para refinanciar a dívida pública com taxa de juros elevada, o que abocanha grande parte da arrecadação de tributos.

Enquanto os gastos do Brasil em educação representaram 6% do PIB em 2014, disse que o desembolso para o pagamento dos juros da dívida pública deve chegar a 8,4% do PIB este ano. Sarti apontou ainda que o pagamento dos juros da dívida pública ao ano supera também os investimentos em infraestrutura.

O diretor do Instituto de Economia da Unicamp vê necessidade de uma reforma tributária para racionalizar o sistema. Nesse contexto, criticou o fato de 45% do PIB brasileiro “ser em cima dos impostos diretos”. “É irracional tributar o consumo”, disse. Criticou o modesto tributo sobre as grandes fortunas no Brasil, atualmente na faixa de 3,8%, enquanto em outros países é bem mais alto. A título de comparação, citou os Estados Unidos, onde o imposto sobre grandes fortunas chega a 38%.

“Se os jornais não fazem esse debate, as universidades têm que fazer”, opinou.

(Viviane Monteiro/ Jornal da Ciência



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