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01/11/16

Pé-sal é inovação e desenvolvimento

A jornalista Rosângela Ribeiro Gil entrevista o ex-deputado pelo PSB Ricardo Maranhão, para o jornal Engenheiro da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), que apresenta dados técnicos contra as muitas “desinformações” sobre a Petrobras.

Foto: PetrobrasFoto: Petrobras

Aos 72 anos de idade e dono de um imenso currículo com muitas titulações profissionais, prêmios e cargos eletivos – foi deputado federal e vereador carioca pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) –, Ricardo Maranhão é incansável em explicar por que a exploração do petróleo da camada do pré-sal deve ficar sob o comando da Petrobras, diferentemente do que estabelece o Projeto de Lei 4.657, aprovado pelo Congresso Nacional em 5 de outubro último.

O PL muda a lei da partilha (12.351/10), tirando a obrigatoriedade da participação da companhia. Admitido por concurso público na petrolífera em 1970, o engenheiro já foi presidente da associação que reúne a categoria atuante na empresa (Aepet) e atualmente é conselheiro do Clube de Engenharia e da Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU).

Nesta entrevista, Maranhão apresenta dados técnicos contra as muitas “desinformações”, como ele define, desferidas contra um dos maiores patrimônios brasileiros com o objetivo de entregá-lo à exploração estrangeira, em detrimento do interesse nacional.

Como o senhor vê a aprovação do PL 4657?

Uma decisão equivocada e com graves prejuízos ao Brasil. Em um consórcio, a operadora é a empresa que projeta, adquire materiais, equipamentos, contrata serviços, monta as instalações, produzindo o petróleo e controlando fluxos financeiros, custos e quantidades produzidas. As demais participantes do consórcio entram com os recursos, recebendo os resultados da produção, compatíveis com os seus investimentos. A Petrobras como operadora permite ao Estado brasileiro um mínimo de controle sobre a exploração do petróleo, produto mineral não renovável e absolutamente estratégico à segurança econômica, energética e militar do nosso País. Além disso, sai enfraquecida a política de conteúdo local, aumenta o risco de fraudes nos custos e recolhimento de impostos – duas empresas estão sendo investigadas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) e multinacionais são alvo de denúncias no Mar do Norte.Importante destacar, ainda, que a operação da Petrobras é mais segura, pois ela é a empresa que tem mais experiência no petróleo dessa camada, uma fronteira geológica. Estão aí os acidentes com a BP, no Golfo do México, e com a Chevron, no offshore do Espírito Santo, para confirmar o que estamos dizendo.

O que significa enfraquecer a política de conteúdo local?

Nenhum país soberano abre mão de uma política industrial que assegure o desenvolvimento tecnológico, a competitividade e o fortalecimento de sua engenharia e de seu parque de fornecedores/prestadores de serviços. O pré-sal exigirá muitos investimentos, inovações tecnológicas e expansão da capacidade produtiva das empresas instaladas no Brasil. É preciso aproveitar essa oportunidade.O pré-sal é uma nova fronteira geológica, são novos materiais, pressões e temperaturas elevadas. Grandes barreiras na logística, devido às distâncias entre o continente e as jazidas, que podem superar 200km. Poços de até oito mil metros. Presença de CO2 e gás sulfídrico. Desmoronamentos nos poços. Se a indústria e a engenharia brasileiras têm dificuldades, vamos ajudá-las para que superem os desafios e não liquidá-las com uma abertura irresponsável. É preciso, também, não desconsiderar as condições de competição muitas vezes altamente desiguais e desfavoráveis às iniciativas brasileiras. Temos as taxas de juros entre as mais altas do mundo. Alta tributação. Muita burocracia. Muitas vezes falta de apoio ou apoio insatisfatório do governo, quando comparado com o suporte dado por autoridade estrangeiras às empresas do exterior.

A empresa tem condições de explorar esse combustível?

Sim, ele está sendo explorado com grande competência e sem atrasos. Descoberto em 2006, em dois anos já iniciava a produção e em dez já produz mais de um milhão de barris por dia. No Golfo do México e no Mar do Norte, nenhuma multinacional conseguiu colocar as jazidas em produção com essa rapidez. O que o País não pode permitir é que interesses estrangeiros ditem o ritmo da exploração. A exploração desenfreada das jazidas pode levá-las à exaustão prematuramente.

O plano de negócios para 2017/2021 fez novo corte nos investimentos. Como o senhor vê isso?

Cortar investimentos numa economia em recessão é aumentar o desemprego, que já atingiu níveis inaceitáveis. No caso da Petrobras um verdadeiro desastre, tendo em vista sua participação no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro, entre 12 e 15%. O governo deve eliminar gastos desnecessários, desperdícios, arquivar ou abandonar projetos equivocados, combater a sonegação, cancelar desonerações, subsídios e benesses tributárias para quem não precisa e não reduzir investimentos produtivos, geradores de riqueza e impulsionadores da atividade econômica.

Qual o papel da engenharia em toda essa história de sucesso?

A engenharia brasileira tem papel decisivo, fundamental, não apenas no pré-sal, mas em todas as atividades da empresa, que incluem a exploração, perfuração, produção, refino, transporte, comercialização e petroquímica. Na camada pré-sal, especialmente, por haver necessidade de muita inovação e desenvolvimento de novos materiais e equipamentos, capazes de suportar a altas temperaturas/pressões, presença de gases como CO2 e gás sulfídrico (H2S), grandes profundidades, sérios problemas de logística. A engenharia está em tudo. Na consultoria e elaboração de projetos – conceitual, básico, de detalhamento etc. –, na construção e montagem das instalações, na operação, na manutenção.

A Petrobras, por saber dessa importância, tem forte articulação com todos os segmentos incluindo mais de cem universidades e centros de pesquisas. São milhares de fabricantes de tubos, conexões, bombas, compressores, fornos, material para laboratórios. Os serviços também são diferenciados, dezenas deles. Locação de veículos, embarcações, helicópteros, fornecimentos de refeições, transporte de cargas, sísmica, completação de poços. Graças à companhia, hoje o País tem um parque industrial bastante diversificado. Se a indústria e a engenharia brasileiras têm dificuldades, vamos ajudá-las a superarem os desafios e não liquidá-las com uma abertura irresponsável.

A Petrobras está falida?

A afirmação é leviana, irresponsável e absolutamente falsa. A companhia tem, ninguém discorda, uma dívida expressiva, oriunda, principalmente, do congelamento dos preços dos derivados de petróleo, por quatro anos, na tentativa, equivocada, de controlar a inflação (perda de receita entre R$ 60 e 80 bilhões). Também contribuíram para a situação, a variação cambial, a queda acentuada nos preços do petróleo – de US$ 140 para até US$ 29,00 o barril – e investimentos pesados na construção de refinarias e na descoberta / desenvolvimento das jazidas do pré-sal.

Todavia, a dívida pode ser equacionada e a empresa continua sólida, merecendo a confiança da comunidade financeira internacional. Recentemente a empresa lançou títulos com vencimento para cem anos. O perfil da dívida vem sendo alongado. As colocações de papéis têm demandas muito superiores às ofertas. A produção de óleo e gás vem batendo recordes sucessivos. As reservas descobertas são enormes. Dentre as grandes petroleiras a Petrobras é a única com reposição de reservas em nível superior ao petróleo produzido, nos últimos 13 anos. Em 2016, a companhia recebeu, pela terceira vez, o Distinguished Achievement Award for Companies, Organizations and Institutions, prêmio concedido pela Offshore Technology Conference (OTC), uma espécie de Nobel do setor de óleo e gás.

Somente a valorização do real frente ao dólar já permitiu a redução na dívida, da ordem de R$ 100 bilhões (1 US$ = R$ 4,25 para 1 US$ = R$ 3,25)! Essa redução, cerca de US$ 31,00 bilhões é mais do que o dobro dos US$ 14,40 bilhões que a direção da empresa pretende arrecadar vendendo ativos, em 2016. O corpo técnico da companhia, representado pela Aepet, entidade com 55 anos e mais de três mil associados, já enviou à direção da Petrobras um elenco de dez medidas para reduzir, desdolarizar e alongar, ainda mais, o perfil do endividamento.

O governo pode compensar a Petrobras pelas perdas impostas pelo congelamento dos preços dos derivados?

Havendo vontade política, seria uma medida muito importante para reativar a economia do País. Importante e justa, pois a Petrobras foi obrigada a vender seus produtos (inclusive para concorrentes) por preços abaixo dos custos de produção. Há, no Congresso Nacional, projeto do Senador Roberto Requião (PMDB– PR) com este objetivo.

Investir em petróleo tira recursos da educação, saúde e segurança?

Claro que não. A exploração do petróleo, notadamente as gigantescas jazidas do pré-sal, feita de forma competente e sob controle dos brasileiros, gera abundantes recursos. A Noruega, por exemplo, criou um fundo soberano, que tem hoje saldo superior a US$ 900 bilhões. A Petrobras gera os seus próprios recursos e os complementa com captações no mercado financeiro. Além disso, por exemplo, em 2013, pagou à União, Estados e Municípios, nada menos de R$ 68,81 bilhões, incluindo impostos, participações especiais, royalties (beneficiando a União, 18 Estados e 932 municípios) e outras contribuições.

A empresa é um cabide de emprego?

Nos quadros técnico e administrativo somente se ingressa pela via democrática do concurso público, conforme determinação constitucional. Os processos de seleção chegam a ter uma proporção de 100 candidatos para cada vaga. A excelência dos quadros é garantida por uma política de recursos humanos fundada em treinamento, aperfeiçoamento e reciclagem permanente.

Como estão os preços do barril de petróleo?

Os preços do petróleo podem variar, é claro, em função da oferta, da demanda e dos estoques. Sofrem, também, fortes impactos decorrentes de guerras, distúrbios, tensão política nas áreas e países grandes produtores e detentores de reservas, como o Golfo Pérsico, Venezuela, Costa Ocidental da África, dentre outros. Uma geopolítica complexa, envolvendo uma multiplicidade de interesses. Em meados de 2008 chegaram a US$ 140,00 o barril; recentemente caíram a US$ 29,00 e, agora, oscilam entre US$ 45,00 e US$ 52,00/barril.

O petróleo vai perder sua importância para combustíveis mais limpos ou energias renováveis?

Hoje o petróleo (óleo e gás natural) responde por mais da metade do consumo de energia primária do planeta. No setor de transportes essa participação é superior a 80%. No futuro, como também o carvão, certamente, será substituído por outras formas de energia mais limpa (os biocombustíveis, as energias eólica, solar, nuclear, hidroelétrica etc.). O óleo tende a perder espaço para o gás natural, menos poluente. O carro elétrico apresenta boas perspectivas. Tudo ocorrerá no futuro. Ainda assim, o produto continuará importante e estratégico por muitos anos, uma vez que também é matéria-prima para centenas ou milhares de produtos essenciais nas sociedades modernas, como plásticos, elastômeros, fertilizantes, detergentes, defensores agrícolas e muitos outros.

Como o senhor avalia a cobertura da imprensa com relação aos assuntos da Petrobras?

Segmentos da imprensa e outros ligados a interesses bem identificados exageram na avaliação da dívida e afirmam, cavilosa e irresponsavelmente, que a mesma é impagável e que a companhia está “falida”, “quebrada”. O objetivo é a desmoralização da imagem da maior empresa brasileira para avançar com a entrega do pré-sal ao capital internacional, ensejando a privatização da empresa.

Registre-se que, lamentavelmente, o fluxo das informações é controlado, no Brasil, por uma mídia fortemente oligopolizada. Cinco famílias controlam mais de 80% dos meios de comunicação.

Confira neste link a edição do jornal Engenheiro, publicação impressa da FNE, que também é disponibilizada na internet.


Rosângela Ribeiro Gil, para o Jornal do Engenheiro








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