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12/12/16

Xingu solar

Entidades em parceria com o Instituto de Energia e Ambiente da USP tocam o Projeto Energia LImpa no Xingu. Território que abriga mais de 6 mil índios enfrenta o desafio que é o do Brasil: investir em fontes de energia renováveis.

Foto: Todd Southgatte / ISA Foto: Todd Southgatte / ISA

Primeiramente, já não é mais "parque". O nome Parque Indígena do Xingu (PIX), no Mato Grosso, que remonta à saga dos irmãos Villas-Bôas na primeira metade do século XX, já é passado. As 16 etnias xinguanas decidiram, recentemente, que vivem no Território Indígena do Xingu (TIX). Atendendo às recomendações dos xinguanos, chamaremos o PIX de TIX de agora em diante.

O TIX tem muitas novidades sobre seu passado recente, mas os mitos ainda orientam a vida presente de seus moradores.Na mitologia xinguana, Taũgi (Sol) e Aulukumã (Lua) são os gêmeos criadores da humanidade. Eles fizeram os primeiros chefes do Alto Xingu a partir de arcos de madeira, enquanto as pessoas comuns teriam sido feitas de bambu de flecha. “O sol criou tudo”, resume o cacique Awaulukumá Waujá, da aldeia Piyulaga, onde vivem 411 Waujá, ou Waurá. A comunidade é a maior do TIX.

Os povos descendentes do sol escolheram os sistemas fotovoltaicos para reduzir a dependência do óleo diesel — caro e poluente— e construir um futuro diferente para as próximas gerações. Para o resto do Brasil, a solução xinguana pode apontar um caminho para a promoção de fontes energéticas realmente limpas.

Até 2019, o Instituto Socioambiental (ISA) e a Associação Terra Indígena Xingu — Atix, em parceria com o Instituto de Energia e Ambiente da USP (IEE-USP) vão levar a várias aldeias do Xingu, sistemas de geração de energia solar para 55 escolas, 22 postos de saúde e mais uma dezena de pontos comunitários de apoio às atividades produtivas no TIX.

O Projeto Energia Limpa no Xingu pretende se tornar uma referência em soluções de energia renovável, descentralizada e fácil de operar em comunidades isoladas, em especial na Amazônia.

Os profissionais do sonho

A aldeia Piyulaga foi escolhida para ser a sede da formação de 32 novos profissionais, que farão a instalação e manutenção das placas solares. Durante cinco dias, em outubro, os alunos de 10 etnias receberam aulas dos engenheiros do IEE. Essa foi a segunda turma. Mais de 100 xinguanos vão receber o treinamento até o primeiro semestre de 2017.

“Quando você traz energia solar, você traz uma soberania energética”, diz André Mocelin, do IEE-USP. Em sala de aula, ele usa material didático simples com os indígenas: caderno e canetas coloridas. Cada aluno desenha o conteúdo da apostila que servirá como guia na hora de montar e cuidar da manutenção dos sistemas fotovoltaicos nas aldeias em que vivem.

O IEE tem experiência no assunto: já implantou esses sistemas em comunidades indígenas do Médio e Alto Solimões (AM) e quilombolas do Vale do Ribeira (SP). Também inventou uma máquina de “gelo solar que conserva alimentos para comunidades extrativistas no Amazonas.

Revolução energética

A formação dos eletricistas e a instalação das placas solares são parte de uma meta ambiciosa, verdadeira revolução energética: reduzir o consumo do diesel em 75% nos quatro “pólos” do TIX, centros comunitários com instalações de saúde, educação e comunicação. Mais de 80 aldeias com escolas e postos de saúde também serão beneficiadas.

O diesel é necessário para fazer funcionar todas essas instalações, além de uma série de atividades produtivas e de lazer cotidianas. O tamanho da conta depende da população de cada aldeia. Os recursos do governo para compra do combustível, porém, são insuficientes.

“A gente recebe aqui uma cota de 200 litros [de diesel] por mês, mas gasta 20 litros por dia. A conta não fecha. Todo mês acaba”, explica Apayupi Waujá, presidente da associação do povo Waujá.

O combustível viaja por até 24 horas para chegar à aldeia Piyulaga. Em geral, sai da cidade de Canarana (MT) e segue por uma estrada de 120 km até a beira do Rio Culuene, já na fronteira do TIX. A partir dali, os tambores são colocados em “voadeiras” (barcos rápidos) até chegar ao porto da comunidade. Uma caminhonete leva a carga por mais 40 km de estrada de terra. — Já as placas solares, uma vez transportadas e instaladas, podem durar até 25 anos.

Quando acaba o diesel, acaba a água limpa. A bomba d’água que abastece as 33 casas também precisa do combustível. Precisava. Após o curso, a instalação foi revitalizada e um sistema com placas solares agora puxa a água do poço artesiano e leva-a ao reservatório. A bomba pode ser ligada tanto ao sistema fotovoltaico como ao sistema a diesel, essencial ainda em dias chuvosos ou nublados.

Assim, 2016 entra na história da aldeia Piyulaga como o ano em que os índios deram um passo essencial para terem acesso a águalimpa de forma autônoma. É um avanço importante já que o desmatamento, a erosão do solo e o uso intensivo de agrotóxicos nas fazendas que cercam o TIX têm comprometido o uso dos rios como fontes de água potável.

Sociedades em movimento

As sociedades xinguanas mudaram muito nas últimas décadas. E vão continuar mudando. A população cresceu e é majoritariamente jovem. Segundo a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), 6.307 índios vivem no TIX hoje e 60% dessa população tem menos de 15 anos. A última década também marcou o crescimento das cidades no entorno, a consolidação do agronegócio na região e a melhoria das estradas.

Novas formas de renda e trabalho surgiram. Os jovens querem estudar. Muitos estão nas universidades. São 210 professores indígenas contratados pela Secretaria de Educação do Mato Grosso e dos 10 municípios que abrigam a TI.

Tudo isso deixou os índios num contato ainda mais intenso, muito diferente da situação vivida pelos anciães, como o cacique Awaulukumá. As mudanças trouxeram mais consumo, aumentaram a demanda por comunicação e energia. Os índios do Xingu estão conectados. O futebol na aldeia, ao fim do dia, é povoado por jovens que exibem orgulhosos o cabelo igual ao do ídolo Neymar e de outros jogadores.

“Hoje em dia, a gente usa os equipamentos pra trabalhar. Não é aquele tempo que a gente trabalha só no machado. A evolução tá chegando e nós estamos acompanhando. A rapaziada tem celular, tem suas coisas. Quando alguém fala isso [que índio não precisa de energia], eu respondo que a gente não vai voltar naquele tempo, vamos avançar junto com a tecnologia”, diz Kyua.

Confira matéria completa do ISA aqui.

A Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) acompanha o assunto, recentemente publicou matéria em seu jornal impresso, que pode ser conferida na página 8, no link: Um novo salto em energias renováveis.


Fonte: Instituto Sociambiental (ISA)



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