Fórum CNTU defende bioética de intervenção

Representantes das federações e entidades da CNTU se reuniram no último dia 17, em Belo Horizonte, para debater uma característica nova do sindicalismo contemporâneo que, aos poucos, vai ficando visível nas lutas travadas pelas bases sindicais das profissões universitárias. Afinal, o que a bioética tem a contribuir para as agendas dos trabalhadores?

A disposição para o debate conjunto, que reuniu 74 sindicalistas e convidados foi saudada pela vice-presidente da CNTU, Gilda Almeida, representando o presidente Murilo Pinheiro. O debate proposto pela Federação Interestadual dos Odontologistas (FIO) e o Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais (CRO-MG) foi introduzido pelo maior especialista em bioética do país, o coordenador da Unesco para esse tema, Volnei Garrafa. Ele proferiu uma Aula Magna para abordar vários conflitos que apontam para uma "bioética de intervenção". Como explica Luciano Eloi Santos, da FIO, são processos em que a participação política cidadã precisa se fazer presente, para combater as iniquidades e desigualdades, construindo uma sociedade mais justa.

 

A proposta de Volnei Garrafa é condizente com a atuação sindical da CNTU que, através de suas campanhas Brasil Inteligente e da atuação das suas entidades, vem defendendo e promovendo a participação política dos profissionais universitários e contribuições a partir de suas áreas de conhecimento. 

As diversas intervenções feitas no Fórum apontaram na mesma direção. A representante dos economistas, Nancy Gorgulho, abordou aspectos econômicos da desigualdade social, em especial a pirâmide social excludente que ainda caracteriza a nossa sociedade, embora reconheça os avanços em termos de redução da pobreza.

 

Pela FNE, o diretor Carlos Abraham apontou aspectos bioéticos e de responsabilidade social da engenharia, lembrando que eles estiveram em recente discussão em decorrência da má condução de algumas obras e  utilização de material insuficiente e de qualidade ruim que resultaram em desastres, com consequências para vidas humanas. 

 

Dra. Aline discutiu a questão da saúde e do direito de cidadania , discutindo a  judicialização da saúde e a alocação de recursos, que muitas vezes incorre em equívocos que prejudicam o SUS.

 

Organizador do evento, o odontologista Luciano Eloi Santos mostrou como o edentulismo (falta de dentes) está relacionado à necessidade de uma política de inclusão social, pelo fato de provocar baixa estima e exclusão do mercado de trabalho. Ele apontou o programa do governo federal "Brasil Sorridente", como uma política que tem contornos de bioética, ao representar uma alternativa que visa melhorar a qualidade de saúde bucal e também de vida das pessoas atendidas.

 

O Fórum ainda contou com intervenções de representantes dos médicos (Aline Albuquerque, da Fenam), dos farmacêuticos (Rilke Novato Públio, da Fenafar) e dos nutricionistas (Ernani Rosas, da Febram); A alta medicalização da sociedade, resultante dos interesses da indústria farmacêutica, é intrinsicamente um problema de bioética. O vice-presidente da Fenafar, Rilke Novato, lamentou que as pesquisas e a comercialização de medicamentos não primem pela ética e responsabilidade social. Também afetada pela indústria e pelo agronegócio, a alimentação do povo brasileiro é outro fator de preocupação. O presidente da Febran, Ernani Rosa, discutiu as politicas de segurança alimentar, a questão de utilização dos agrotóxicos,  transgênicos e a necessidade de promoção da alimentação.

A intensa participação dos sindicalistas das diferentes profissões, vindos de diversos estados brasileiros, indicou que a bioética vem ajudar a qualificar a ação das entidades e a reforçar a importância das campanhas Brasil Inteligente, da CNTU, que apontam gargalos a serem superados para assegurar a qualidade de vida da população.

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