Nota sobre o previsível "acidente" da Vale S. A.
Diante da tragédia no setor de mineração, a CNTU, em nota, reafirma que o desenvolvimento nacional deve superar o modelo econômico demasiadamente assentado em exportação de matérias-primas com baixa agregação de valores e com alto impacto ambiental negativo.
A tragédia humana decorrente de um erro técnico e administrativo em Brumadinho pôs perplexa toda a sociedade brasileira. O rompimento da barragem do Feijão causou algo ao redor de 350 irreparáveis perdas humanas, além da devastação do meio ambiente, fauna, flora, agricultura, empregos, projetos e do abalo na confiança em instituições.
Importante destacar que não se trata de um acidente pontual, mas sim em curso (contaminará com metais pesados e venenos diversos rios, inclusive, lamentavelmente, o São Francisco). Assim precisa ser compreendido e enfrentado. Da mesma maneira, não se trata de um acidente de Brumadinho, mas da Vale S.A., corporação juridicamente instituída, com representantes responsáveis.
É imperiosa e necessária uma tomada de consciência que tenha o condão de evitar, de uma vez por todas, que esse tipo de acidente volte a acontecer. Afinal, as vidas de 3,5 milhões de pessoas estão ligadas ao fio da sorte de que isso não ocorra novamente.
Para tanto, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU) conta com que haja uma investigação ampla e transparente, capaz de apontar a real causa do acidente, apurando os níveis de responsabilidades e punindo exemplarmente os responsáveis, tanto civil quanto criminalmente.
Numa clara intenção de encobrir os próprios erros e dar uma resposta à população, prenderam-se funcionários da empresa, assim como os engenheiros que trabalharam no laudo fornecido pela empresa Tüv Süd à Vale.
É notório que, sempre que governo ou elite são expostos, procuram terceirizar a culpa. Prender os comandados para livrar os comandantes, indicados por políticos suspeitos, é algo que nos consterna e transtorna.
Serviços públicos vêm sendo sucateados de forma programada para atender a ganância, o aumento do lucro de empresas, com amplo prejuízo e desprezo pela vida humana e pelo meio ambiente. O fim do Ministério do Trabalho, com o fatiamento e desmonte da fiscalização na saúde e segurança do trabalhador, será um vetor funesto com consequências previsíveis; que não sejam no futuro tratadas como acidente.
É no bojo desse contexto que a engenharia nacional, reconhecidamente uma das melhores do mundo, tem pago com sua imagem por algo a que, pelo menos em princípio, não deu causa.
Se dormitarmos, uma decisão que aparentemente visava contenção de custos para aumentar o lucro vai entrar na conta da já tão atacada engenharia nacional.
Se algum engenheiro errou, que arque com as consequências, mas nosso dever é lutar para que não ocupem o altar expiatório para livrar os verdadeiros responsáveis diretos. À CNTU só interessa que a justiça seja plena, com os direitos constitucionais de ampla defesa garantidos a todos.
A CNTU, desde a sua criação, promove um diálogo social, acompanhando, debatendo e fazendo propostas para o desenvolvimento do País, o que está registrado numa série continuada de pronunciamentos públicos e documentos que são enviados às autoridades e acessíveis a todos os interessados. Diante dessa tragédia no setor de mineração, a CNTU reafirma que o desenvolvimento nacional deve superar o modelo econômico demasiadamente assentado em exportação de matérias-primas com baixa agregação de valores e com alto impacto ambiental negativo. Mais do que commodities, as riquezas naturais devem servir ao projeto de industrialização sustentável, que atenda às necessidades sociais do País, com inteligente e responsável preservação ambiental, gerando empregos qualificados. Esses devem ser atendidos por uma educação científica, técnica e humanística, capaz de aumentar a produtividade, mas também o espírito crítico e a participação cidadã.
Brasília, 18 de fevereiro de 2019.
Foto: Fotospúblicas.com
Leia mais:
+ Notícias