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25/06/14

Adeus à mulher impossível

Rose Marie Muraro, a intelectual e militante que desafiou a igreja e a ditadura, viu e apontou problemas de gênero para além da relação homem e mulher, mas em todas as esferas da sociedade patriarcal.

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Foi com tristeza que as brasileiras compartilharam a dor da perda de Rose Marie Muraro, a feminista que estimulou as oprimidas e as lutadoras do país a acreditarem no impossível, e a dar passos mais confiantes em sua direção, como relata em sua autobiografia, "Memórias de uma mulher impossível".

Ela própria descobriu que podia, apesar de quase não enxergar, ver os problemas de gênero para além da relação homem e mulher, mas em todas as esferas da sociedade patriarcal. Ao apontá-los e enfrentá-los, com livros seus (44) e de autores(as) que editava (1600 obras pela Editora Vozes e Rosa dos Tempos), foi precursora do atual feminismo no Brasil. Foi "um exemplo de luta obstinada em defesa dos direitos das mulheres e dos mais pobres", disse a União Brasileira de Mulheres (UBM) em manifestação de pesar.

Leonardo Boff,  companheiro de militância desde a Igreja Católica, diz ter sido ela,  no final dos anos 60 do século passado, quem suscitou a polêmica questão de gênero. "Não se limitou à questão das relações desiguais de poder entre homens e mulheres mas denunciou relações de opressão na cultura, nas ciências, nas correntes filosóficas, nas instituições, no Estado e no sistema econômico. Enfim deu-se conta de que no patriarcado de séculos reside a raiz principal deste sistema que desumaniza mulheres e também homens".

O Movimento de Mulheres Camponesas reconhece em Rose Marie uma mulher à frente do seu tempo, inteligente, audaciosa, perspicaz. "Sofreu violências, como tantas mulheres no passado e no presente, mas, teve coragem de se rebelar e se contrapor ao machismo e ao patriarcado. Lutou com todas as suas forças e foi teórica, cujo legado seguimos e seguiremos", diz mensagem de luto do movimento.

Durante a ditadura, Rose Marie foi uma intelectual ousada. Ela mesmo relata, em documentário  de Marcia Derraik, como lidou com a  ignorância do regime, já que "o assunto mulher era um assunto sem importância para os militares e para a sociedade como um todo. O pessoal não sabia da existência do feminino. Ah, essa daí lida com mulher, essa daí não é perigosa, tem filhos pequenos, só tá na igreja, então essa daí não vamos perseguir."

Sofreu discriminação pelo que fazia na própria editora à qual dedicou 17 anos de sua vida, desligada da  Vozes e expulsa da Igreja Católica, ao escrever o livro "Por Uma Erótica Cristã".  Ela e Leonardo Boff, com a Teologia da Libertação,  receberam o mesmo castigo, em 1986, por defenderem idéias liberdatoras em um momento de grande conservadorismo católico.

O  intenso ativismo  continuou sendo um marca de sua vida ao passar dos anos.  Como lembra Leonardo Boff, "a crise econômico-financeira de 2008 levou-a colocar a questão do capital/dinheiro com o livro Reinventando o capital/dinheiro (Idéias e Letras 2012), onde enfatiza a relevância das moedas sociais e complementares e as redes de trocas solidárias que permitem aos mais pobres garantirem sua subsistência à revelia da economia capitalista dominante".

Em recente entrevista ao jornal A Notícia, ela disse ter ouvido de MIchel Foucaul,  "o cientista social mais importante do século passado", que "o feminismo foi o movimento mais importante do século 20".  Rose Marie via depois um neofeminismo,  " aquele momento em que as mulheres deixam de fazer os movimentos coletivos e vão para o poder, para o Estado, para as empresas como feministas.

"Pelo Twitter, a presidenta Dilma Rousseff  lamentou a morte de quem considerou um ícone da luta pelos direitos das mulheres. “Intelectual notável, Rose Marie foi uma mulher determinada em tudo, na luta contra a barreira da cegueira, na luta pelas suas ideias. Somos todas gratas à dedicação incansável de Rose Marie”, escreveu.

Rose Marie era uma mulher vibrante, uma bruxa, como se define, que superou inclusive a cegueira quase total de nascimento. Aos 66 anos de idade,  ao ver seu rosto após uma cirurgia que corrigiu o problema, disse de si mesma: "Sei hoje que sou uma mulher muito bonita".

Rose Marie Muraro faleceu em 21 de junho de 2014.

 

 

Rita Freire



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