País sofre de overdose de automedicação
Um terço das pessoas que tomam remédio por conta própria, além de correrem risco de medicação indevida, ainda exageram na dose, mostra pesquisa
No Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos, comemorado neste 5 de maio, o Brasil tem muito a refletir sobre os hábitos da população quando se trata do uso indevido de remédios adquiridos irregularmente, ou que são comercializados como Medicamentos Isentos de Prescrição (MIPs) ou OTCs, na sigla em inglês (Over the Counter). Segundo a Organização Mundial da Saúde, Os MIPs são aqueles medicamentos avaliados pela autoridade sanitária como drogas que podem trazer benefícios se forem tomadas conforme a prescrição da bula e embalagem, sem necessidade de receita. Para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), eles devem ter uma relação favorável entre benefício e risco; ser eficazes e seguros; ter a incidência de efeitos colaterais bem caracterizados; não devem apresentar problemas de interação medicamentosa; não devem mascarar sintomas que possam impedir o diagnóstico e o tratamento adequado; e devem apresentar baixo grau de dependência e potencial de abuso. Essas drogas podem, inclusive, ser anunciadas para tratamentos de sintomas de doenças mais triviais, como um resfriado, uma dor de cabeça ou ma digestão.
Porém, o benefício pode se transformar em risco se as recomendações da bula não forem seguidas, especialmente se a quantidade ultrapassar os limites e dosagens adequados aos sintomas. É o que fazem quase um terço dos usuários de medicamentos sem orientação médica, sejam os MIPs ou drogas adquiridas indevidamente, até pela internet.
Esse dado alarmante é o que revela o Instituto de Pos-Graducação em Farmácia (ICTQ), ao divulgar hoje uma pesquisa feita com 1480 pessoas maiores de 16 anos, em 12 capitais brasileiras. A auto-medicação é uma prática usual da população, chegando a uma média de 76,4!% de adeptos no país e à esmagadora maioria dos habitantes de algumas capitais como Recife, a campeã, com 96%.
Remédios vendicos com prescrição médica também tem consumo abusivo e pesam nos resultados da pesquisa. O problema vem aumentando no mundo todo. De acordo com um relatório da Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE), publicado dia 4 de março, em Viena, o "uso se intensificou em todas as regiões' e em 'alguns países supera a taxa de consumo de drogas ilícitas', Em matéria sobre a pesquisa, o jornal Folha de São Paulo informa que os medicamentes superam até mesmo os agrotóxicos como causa de intoxicações no país, com índice de 30%. O dado é do Sistema Nacional Tóxico-Farmacológicas.
A JIFE pediu inclusive providências dos países para reduzir a oferta dos medicamentos e a promover campanhas de sensibilização. Desde 2012, a CNTU promove através do seu projeto Brasil Inteligente uma campanha de educação e conscientização sobre o consumo de medicamentos e visa também convencer setores governamentais e profissionais a adotarem novos procedimentos e políticas. A mudança de comportamento da população passa também pela mudança nas práticas da indústria, especialmente a de fazer propaganda de seus produtos dentro de hospitais, dirigida aos profissionais e estudantes da saúde, nos seus espaços de trabalho e formação, onde a influência da publicidade acaba sendo ainda mais nociva para o conjunto da sociedade.
Por isso, a CNTU defende que os hospitais, principalmente públicos e que recebem incentivos governamentais, impeçam a propaganda da indústria farmacêutica aos estudantes e ao corpo clínico, bem como a doação de medicamentos, muitas vezes em quantidade insuficiente, para cursos de terapia no hospital; O objetivo é também contribuir para a implantação de política pública de acordo com as diretrizes da Política Nacional de Medicamentos e com a Constituição Federal, que garante a saúde como direito social.
Redação CNTU
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