Médicas debatem a condição da mulher na profissão e no país (2)
Encontro Fenam de Mulheres Médicas do Brasil apontou dificuldades e discriminações a serem superadas no mundo do trabalho e na sociedade, em busca de respeito às questões de gênero no exercício da medicina
Profissionais da medicina e convidadas realizaram no último dia de abril (30), em Natal (RN), o Encontro FENAM de Mulheres Médicas do Brasil, evento que colocou em pauta todos os problemas que dificultam a participação da mulher na sociedade brasileira, sob o prisma da categoria. Os temas não são muito diferentes do que o conjunto das mulheres enfrenta no dia a dia: violência, discriminação e o assédio moral no trabalho, violação aos direitos humanos, mas em particular foi discutida a vulnerabilidade na profissão.
O site da Fenam cobriu o evento e colheu vários depoimentos de mulheres, como o da diretora do Sindicato dos Médicos da Bahia, Débora Angeli, que durante a mesa “Violência contra a mulher médica”, comoveu o público ao mostrar o que passam as médicas peritas do INSS.“Nós colhemos as falas de forma anônima, pois essas profissionais sofrem ameaças de violência física e pediram socorro ao Sindicato. Não há segurança e, quando existe, é insuficiente. Essa vulnerabilidade da médica desencadeia estresse, sofrimento, ansiedade e depressão”, afirmou a diretora.
A conselheira do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Ana Maria Costa, pediu mais igualdade e mais direitos na profissão médica. Em sua fala, ela realizou uma reflexão sobre o trabalho e a discriminação por conta da maternidade.
“Os gestores e os formadores de políticas públicas vão ter que pensar sobre o contingente maior da população feminina nesta profissão de assistência essencial. A redução do tempo despendido ao trabalho diante da procriação não pode ser transformado em fator de desigualdade. A procriação é responsabilidade de ambos os sexos, mas o fato da gestação e o aleitamento ocorrerem no corpo feminino, a mulher médica não pode ser punida por isso”, alertou a conselheira.
No encontro, a delegada de Polícia do Rio Grande do Norte, Karen Lopes, trouxe uma palestra sobre a violência sexual e no trabalho. Ela relatou casos de mulheres violentadas sexualmente e fisicamente. Na ocasião, foi exibido um vídeo de uma mulher agredida a socos pelo companheiro, em seguida a questão da impotência da justiça diante do fato desta vítima continuar a manter contato com o agressor norteou o debate.
“Solução a gente quase não tem para o tema, mas falar sobre o assunto ajuda à alertar sobre o fato de que temos que ter consciência política ao escolher em quem estamos votando. Hoje nós não temos estrutura adequada para a notificação compulsória médica nos casos de violência doméstica e o atendimento da vítima, vai muito além do registro policial”, afirmou a delegada ao se referir a dependência emocional das vítimas de violência.
Sobre o tema “Direitos Humanos” a advogada da União, Aline Albuquerque, alertou para o fato de que a população responsabiliza o profissional de saúde pelas falhas e pela precariedade no atendimento público, e não o gestor. “A situação de impotência diante da falta de condições de trabalho gera frustração e adoecimento na vida do profissional médico. Precisamos cobrar responsabilidades”, afirmou a advogada.
Na última mesa do Encontro sobre o “Empoderamento da Mulher na Sociedade”, a doutora em antropologia social pela UnB, Roberta Salgueiro, destacou o papel das mulheres nas equipes médicas. “Elas estão mais preocupadas com as condições de trabalho, estrutura do local, elas reclamam e pleiteiam”, disse.
Lideres sindicalistas homens manifestam apoio
O presidente da CNTU, Murilo Pinheiro, participou do evento e lembrou dos encontros promovidos pela CNTU com a temática das mulheres. “Nós estamos no caminho correto para que tenhamos uma solução à altura. Obviamente estamos preocupados com a quantidade de demandas, mas satisfeitos pelo debate, avaliou”. Na conferência de abertura, o sociólogo e escritor, Lejeune Mirhan, realizou uma análise crítica da participação do sexo feminino na política e nos cargos de confiança. Ele destacou, por exemplo, que de cada cinco candidatos à prefeitura ou vereador, apenas um era mulher. “As mulheres têm mais escolaridade que os homens, mas ainda recebem os menores salários”, destacou o sociólogo.
Ao encerrar o debate, o presidente da FENAM, Geraldo Ferreira, afirmou que o objetivo do evento foi analisar e amadurecer as demandas femininas. “Nós estamos tentando ampliar a área de visibilidade da nossa entidade nas questões sociais. Nós temos que estar inserido nesse movimento que está correndo na sociedade”, destacou.
Participaram também da mesa de abertura a diretora do Hemonorte, Linete Vasconcelos; o presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Norte, JeanCarlo Fernandes; o presidente da Associação Médica do Rio Grande do Norte, Álvaro Barros; a presidente do Sindicato dos Médicos do Piauí, Lúcia Santos; a vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte, Mônica Andrade, e o secretário de Direitos Humanos da FENAM, José Murisset.
Redação CNTU com Fenam
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