Os sete nobéis imbecis
Mário Ramos RibeiroO autor recupera opiniões de economistas renomados sobre o Brasil, publicadas em 2006
No Brasil que vai surgir depois das eleições deste ano, vale a pena rever o que disseram sete economistas agraciados com o prêmio Nobel, na esperança uma empurrada de barriga nas medidas de ajuste fiscal. Dei-me o trabalho de, entre espirros e poeiras, localizar uma revista Veja de agosto de 2006. Bom, o que dizem os sete economistas “imbecis”, os Nobéis entrevistados pela revista VEJA sobre o populismo econômico no Brasil – que hoje está mais para o “soft power à “La China”? Vamos conferir:
a) Gary Becker, Nobel de 1972: “Há ainda o que eu chamaria de capitalismo de compadrio – algumas famílias ou setores privilegiados do governo... Eu diria que esse compadrio é uma das principais causas do atraso econômico da região”;
b) James Heckman, Nobel de 2000: “O maior obstáculo ao crescimento sustentável brasileiro é o excesso de burocracia e regulamentação... Faltam incentivos para que as pessoas sejam mais competitivas... No Brasil esses estímulos são muito tímidos, predomina um pensamento que lembra o mercantilismo, de viver em um mundo de castas e protegê-lo do jeito que ele é. Não há uma economia competitiva e flexível, na qual as pessoas abram empresas, fechem empresas, contratem bons funcionários, demitam maus funcionários, contratem bons professores, demitam os ruins”.
c) Douglas North, Nobel de 1993: “O Brasil é um país cheio de promessas e possibilidades, mas que foi tomado de assalto por grupos de interesses que souberam se aproveitar do Estado para seus próprios benefícios. E ainda se aproveitam. Esses grupos de
interesse se protegem da competição, numa ação que tende a fechar a economia e barrar a eficiência”.
d) Robert Solow, Nobel de 1987: “A renda per capita brasileira poderia experimentar um salto se boas políticas fossem perseguidas... Se os investidores suspeitarem que haverá mudanças, eles tenderão a refrear novos investimentos... Por essa razão, o desafio do Brasil não é imitar a China, mas manter a estabilidade. Não imagino que outros países possam imitar o modelo chinês”.
e) Edward Prescott, Nobel de 2004: “É fundamental que o Brasil estimule a criação de uma sociedade privada. Esse é o motor de qualquer ciclo de expansão sustentável. Já o combustível é a formação de poupança. Nenhum país cresce sem um sistema que induza a
formação de poupança. É condição vital, no entanto, que os recursos sejam bem geridos. Eles não podem ser desperdiçados nas mãos de governos incompetentes. A única esperança que vislumbro é que o Brasil se descentralize. Tenho algumas sugestões. Livrem-se da centralização de poder em Brasília e reduzam drasticamente os impostos federais. Deixem que os estados da federação ganhem autonomia e compitam entre si por investimentos”.
f) Robert Mundell, Nobel de 1999: “O sistema tributário brasileiro desestimula os investimentos... conseguir atrair o investimento estrangeiro de longo prazo direto é fundamental para o crescimento porque traz consigo capital, tecnologia e mercados. O Brasil é um dos países mais fechados do mundo. A característica comum a todos os países fechados , é que eles têm baixa renda per capita. Não há como ter crescimento sem empresários, sem pessoas que iniciem novos negócios. O Brasil adotou uma política de desenvolvimento protecionista num momento em que o restante do mundo estava se abrindo internacionalmente”.
g) Paul Samuelson, Nobel de 1970: “A história do nosso tempo é que você pode até não gostar do mercado, mas não apareceu nenhum modelo alternativo capaz de organizar grandes populações... o padrão político de democracias populistas parece ter sido um fator que inibiu o desenvolvimento do mercado”.
O Brasil não escapou da crise porque fez política fiscal anticíclica de espécie alguma. Em primeiro lugar porque os bancos brasileiros não detinham nas suas carteiras papéis imobiliários de alto risco, os tais “subprime mortgage assets”- pela óbvia razão de que este mercado não existia e nem existe ainda aqui! Em segundo lugar, porque os gastos fiscais realizados já estavam a muito programados para serem executados. A crise internacional criou a oportunidade e trouxe o pretexto para gastar com o custeio da “máquina” e empurrar para debaixo do tapete um passivo fiscal, cuja extensão e natureza somente conheceremos no próximo governo, quando o
verdadeiro ajuste tiver de ser feito.
Mário Ramos Ribeiro é doutor em economia pela USP, docente da UFPA, consultor em Economia Ambiental e Finanças Empresariais.
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