Opinião - Nanotecnologia e sustentabilidade
Carlos Magno Correa DiasMotores moleculares, nanomateriais como matéria-prima para a fabricação de produtos diversos, robôs nanométricos introduzidos no corpo humano por via oral ou intravenosa, nanobombas para destruir células de câncer, nanocabos para o transporte de eletricidade, dentre outras aplicações da nanotecnologia já deixaram de ser “ficção científica” e invadem de forma intensa o mundo científico e tecnológico. No mundo real, tornam-se imprescindíveis estudos e pesquisas em nanotecnologia.
Essa pode ser entendida como o conjunto de tecnologias voltadas para a criação de dispositivos e materiais funcionais utilizados para o controle da matéria em escala nanométrica. Nesse sentido, a nanotecnologia se apresenta como a capacidade tecnológica de gerar objetos “físicos” a partir do controle em nível atômico para alocar átomos e moléculas em qualquer local necessário, objetivando soluções de correspondentes problemas.
Porém, como a nanotecnologia encontra-se fortemente associada à filosofia do “fazer mais com menos”, própria dos mercados inovadores, surge, então, inevitavelmente, uma grande preocupação (muito natural diante do desconhecido ou do pouco experimentado), que corresponde à necessidade de se prever os possíveis efeitos da utilização dos nanomateriais sobre o meio ambiente e, principalmente, sobre a saúde humana. Em qualquer meio de produção sempre existirão impactos ambientais potenciais relacionados com aquilo que se produz. Não será diferente, certamente, no que diz respeito aos rejeitos gerados do emprego dos nanomateriais em produção industrial; isso sem levar em conta a problemática associada com a destinação final dos correspondentes rejeitos.
É exigido, então, saber se os nanomateriais poderão ser tratados devidamente antes de entrar no meio ambiente quando se pensa em sustentabilidade. Mas, antes, porém, é necessário saber como deverão ser pensadas as formas de se transportar os rejeitos de nanomateriais pelos ecossistemas, bem como quais serão os destinos adequados para os correspondentes rejeitos.
Todavia, uma questão mais anterior se apresenta, pois não há, até o momento, certeza se os nanomateriais podem ser tratados de forma sustentável antes de entrar no meio ambiente. As experiências são poucas e o tempo de experimentação ainda não é o devido para projetar futuras consequências. Muitos estudos e pesquisas serão solicitados para a formulação de diretrizes ou instituição de normas adequadas. Veja-se, por exemplo, o caso do Fulereno que pode ser aplicado na produção de fármacos, na conversão de energia, na geração de lubrificantes, na construção de semicondutores, dentre outras aplicações. Como não há atualmente a produção desse nanomaterial em escala industrial, não se sabe quais serão as consequências quando os rejeitos correspondentes forem liberados no meio ambiente.
Dos estudos já realizados sobre os Fulerenos, sabe-se, porém, que são absolutamente insolúveis em água e que seu interior é hidrofóbico, ou seja, repele a água. Assim, a utilização dos Fulerenos sinaliza a possibilidade de afetarem de forma direta a água do meio ambiente a que tiverem contato, uma vez que poderão formar em água partículas muito maiores em relação aos tamanhos de suas moléculas originais.
De outro lado, a indústria já inicia pesquisas direcionadas para prever os impactos dos nanomateriais não somente no meio ambiente, mas também para equacionar quais seriam as consequências sobre a competitividade, estimando prejuízos e lucros possíveis. Há entendimento que o advento da nanotecnologia exigirá uma mudança de patamar da indústria tanto sobre os ganhos que poderão ser ampliados quanto sobre a instituição de novas diretrizes que deverá definir para a manutenção da responsabilidade social corporativa visando a sustentabilidade interna e externa.
Diante da realidade, inevitavelmente, deverão ser garantidos investimentos, promovida a correspondente estimulação da capacitação profissional, bem como estabelecida legislação adequada para se trilhar os caminhos sinalizados na utilização dos nanomateriais. Nesse sentido, é primordial a união de forças entre a universidade, a indústria e o governo. A força da lei (gerada pelo governo), o conhecimento científico (construído pela universidade) e o desenvolvimento de novas tecnologias (promovido pelas indústrias), em forte simbiose, serão imprescindíveis para se obter um futuro mundo nanométrico sustentável.
*Artigo escrito por Carlos Magno Corrêa Dias, professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e líder (coordenador) do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Tecnológico e Científico em Engenharia e na Indústria da UTFPR/CNPq, o qual é colaborador voluntário do blog Giro Sustentável, da Gazeta do Povo.